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BONITO CINESUR 2025

Marcos Pierry: "Nunca vi o cinema daqui tão forte e plural como agora"

Curador da Mostra Sul-Mato-Grossense fala sobre os desafios da seleção e celebra produções de MS

6 JUN 2025 • POR TERO QUEIROZ • 15h49
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Na terceira edição do Bonito CineSur, para Marcos Pierry, houve maior dificuldade para escolher entre as obras. Foto: Tero Queiroz

A terceira edição do Bonito CineSur mostrará o crescimento e a diversidade do cinema sul-mato-grossense, afirmou o jornalista e curador Marcos Pierry que selecionou as cinco produções que compõem a Mostra Sul-Mato-Grossense do festival, que acontece de 25 de julho a 2 de agosto de 2025 em Bonito (MS).

Após a cerimônia de lançamento do festival, realizada no auditório do Bioparque Pantanal, na manhã desta 6ª feira (6.jun.25), Pierry disse em entrevista ao TeatrineTV que houve um forte "amadurecimento da produção local".

Diante disso, o processo de escolha dos filmes se tornou ainda maior responsabilidade. “Primeiro, eu queria dizer que fazer essa seleção é um desafio muito grande. Se você não tomar cuidado, pode acabar sendo arrogante ou arbitrário nas escolhas”, anotou. Ele afirmou ainda que, apesar do peso, vê o trabalho como um privilégio. “Para mim, é muito gostoso porque eu tenho a chance de ver tudo, inclusive o que não vai ser selecionado”.

Segundo o curador, a seletiva mira a qualidade e a conexão da obra com os espectadores. “É uma responsabilidade muito grande espelhar o que é o melhor, o mais significativo, o mais representativo do Mato Grosso do Sul dentro da linguagem audiovisual, mas também escolher filmes que consigam realmente conversar com o público”.

Marcos Pierry e a atriz Betrice Sayd durante a cerimônia de lançamento do Bonito Cinesur em Campo Grande (MS). Foto: Tero QueirozMarcos Pierry e a atriz Betrice Sayd durante a cerimônia de lançamento do Bonito Cinesur em Campo Grande (MS). Foto: Tero Queiroz

Entre os aspectos que mais chamaram a atenção na seleção deste ano está o crescimento do cinema que ele chama, com ressalvas, de infanto-juvenil. “Esse ano, o que me saltou aos olhos foi um investimento forte no cinema que poderia ser chamado de infanto-juvenil, embora eu não use exatamente esse termo. Tem um filme que fala da história de dois irmãos, com a presença de um tio que traz uma outra experiência familiar. É uma família até disfuncional, com um pai que lida de uma forma específica com os filhos”, adiantou, sem mencionar o título Inigmas no Rolê, longa-metragem dirigido por Ulísver Silva que integra a competição oficial nesta edição do CineSur. “Essa dinâmica ressignifica a vida dos jovens, e aí vem aquela aventura que é muito potente, muito fofa, mas também um filme adulto”, comentou Pierry.

Outro ponto destacado é o protagonismo feminino, não apenas em termos de gênero, mas na representação de personagens fortes e complexas. “Além disso, a presença da mulher aparece de um jeito surpreendente, não só no aspecto de gênero, mas na forma como ela administra uma propriedade rural, quebrando estereótipos, mostrando uma dignidade muito forte na narrativa”, aponta se referindo à trama do curta-metragem Eleonora, de Ligia Tristão Prieto, que também concorre na Mostra Sul-Mato-Grossense nesse ano.

Pierry ainda citou como exemplo o filme A Última Porteira, curta-metragem de Rodrigo Rezende, que aborda temas familiares e deslocamentos significativos. “Isso, só no tema, já seria mérito, mas o que impressiona é a forma como os roteiros são ágeis, inspirados e que prendem a atenção”, considerou.

O curador avaliou que essa edição trará um rompimento de padrões. "Eu vejo um selo forte de autor sul-mato-grossense nessa seleção, feita por nós, que rompe com padrões”.

Nessa edição, para Pierry, houve maior dificuldade para escolher entre as obras. “De um ano para outro, teve um salto enorme: mais filmes, mais qualidade e, por isso, mais dificuldade para escolher. Isso me dá um desassossego porque você fica tentando ser justo e criterioso”.

Em sua curadoria, Marcos também aplicou critérios de representatividade e diversidade, buscando contemplar grupos historicamente prejudicados pela branquitude cis. “Eu também uso critérios de representatividade — povos originários, mulheres, LGBTQIA+, interior do estado — e queria que tivesse mais filmes do interior — mas ainda não há”.

Para Marcos, a produção audiovisual sul-mato-grossense tem ganhado novos olhares e narrativas. “A gente, sabe? Os filmes tão dialogando, tão nos permitindo ter uma nova percepção do que é a cidade, o estado. Eu acho isso uma coisa que deveria ser um caminho sem volta, depende da gente”.

Apesar da espera por mais apoio governamental, ele reconhece a força dos realizadores locais. “A gente fala, fala, fala que depende do governo, mas na hora que a mixaria cai na mão, a gente está fazendo muito filme”.

O curador finalizou exaltando a pluralidade do cinema estadual como ponto forte do CineSur 2025 e apontando que o momento atual representa uma vitória coletiva. “Para mim, essa seleção representa uma corrida onde todo mundo está rompendo a fita de chegada junto, porque eu nunca vi o cinema daqui tão forte e plural como agora”.

REALIZADORES 

O Festival é uma realização da Associação Amigos do Cinema e da Cultura (AACIC), em parceria com o Ministério da Cultura (Governo Federal), por meio de emenda parlamentar do deputado federal Vander Loubet. Conta com patrocínio da Fecomércio-MS, Sesc-MS, Emgea e Agência Nacional do Cinema (Ancine). Tem o apoio da Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico e da Prefeitura de Bonito, da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur), da Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc) e do Governo de Mato Grosso do Sul, além do apoio cultural da Energisa e da Zoom Publicidade.

Em 2024, o Bonito CineSur exibiu 42 filmes em 120 horas de programação, mobilizou mais de cinco mil pessoas e impactou diretamente a economia criativa de Bonito.