Artistas, estudantes e juízes: ditadura trumpista está em curso nos EUA
Político de extrema direita trava guerra fria cultural sob defesa de ideologias extremadas
22 JUL 2025 • POR TERO QUEIROZ • 14h10
Na nova era ditadura trumpista, não basta obedecer a fronteiras físicas. As simbólicas — da arte, da crítica e da dissidência — também passaram a ser policiadas. A revogação do visto de oito ministros do STF pelo governo dos Estados Unidos, incluindo Alexandre de Moraes, causou comoção política no Brasil. No entanto, esse episódio é apenas a face institucional de uma política mais ampla e silenciosa, que avança como censura sob o disfarce de segurança diplomática.
Sob a nova gestão de Donald Trump, artistas, estudantes e ativistas estão sendo barrados em aeroportos e silenciados por redes consulares. Vistos têm sido sistematicamente revogados com base em critérios vagos como “riscos à política externa” — uma definição que passou a incluir críticas ao governo de Israel, protestos por Gaza, ou até mesmo performances artísticas consideradas “provocativas” ou “contrárias aos interesses estratégicos” dos EUA.
ARTE SOB VIGILÂNCIA

Um dos casos mais simbólicos é o da banda britânica de rap punk Bob Vylan, impedida de entrar nos Estados Unidos após participar de um festival no Reino Unido em que o público entoou gritos contra a ação militar israelense. A decisão, segundo fontes da imprensa internacional, teria partido do Departamento de Estado, que considerou o ato uma incitação ao “antagonismo diplomático”.

O músico mexicano Julión Álvarez, ícone da música regional, viu seu show no Texas cancelado após a revogação de seu visto. Embora o cantor já tivesse enfrentado acusações (nunca comprovadas) de vínculos com o narcotráfico, críticos apontam que a medida teve mais a ver com o conteúdo de suas apresentações do que com fatos jurídicos.

Outro caso controverso veio do México: a banda Los Alegres del Barranco teve os vistos suspensos após exibir em um telão, durante show em Jalisco, a imagem de um conhecido traficante local. O gesto, que os artistas alegam ser parte de uma “denúncia simbólica”, foi entendido pelas autoridades americanas como apologia — ou, no mínimo, provocação.
PROTESTAR VIROU INFRAÇÃO DIPLOMÁTICA

A repressão também chegou ao meio acadêmico. A indiana Ranjani Srinivasan, ex-mestranda em Sociologia pela Universidade de Columbia, viu seu visto cancelado após criticar nas redes sociais as ações israelenses em Gaza. A justificativa oficial citou “possível impacto negativo à política externa dos EUA”, amparada em um estatuto federal raramente usado em tempos anteriores.
Universitários estrangeiros em instituições como Harvard, Stanford e Yale também relataram aumento na vigilância e ameaça de deportação após participação em protestos pró-Palestina ou por direitos indígenas. Em alguns casos, o cancelamento de vistos ocorreu com base em interações online — posts, curtidas e comentários passaram a compor o dossiê diplomático de muitos estudantes.
STF NA MIRA DA 'DITADURA TRUMPISTA'
O episódio envolvendo os ministros do STF acentuou a dimensão geopolítica do novo endurecimento. A alegação oficial do governo Trump é que a imposição de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro — por ordem do STF — “comprometeu interesses americanos”. Além de Moraes, outros sete ministros tiveram vistos e autorizações revogados, afetando também familiares.
A medida não é apenas uma retaliação política da extrema direita, mas a tentativa explícita de definir quem pode ou não criticar os aliados dos EUA.
UMA NOVA CORTINA DE FERRO?
Com as fronteiras fechadas a artistas, acadêmicos e juízes, cresce a percepção de que os EUA sob Trump voltaram a operar sob uma lógica de guerra fria cultural. A arte passou a ser tratada como risco. O protesto, como ameaça. E o visto, como ferramenta de punição silenciosa.
Mais do que medidas diplomáticas, essas ações refletem um embate global entre liberdade de expressão e hegemonia ideológica. Para muitos, o palco não é mais um espaço livre. É um campo minado.