'Fiz café da manhã para ele', diz amigo que encontrou Jonir Figueiredo morto
26 JUL 2025 • POR ALY FREITAS | TERO QUEIROZ • 15h32
No final da estrada Santana do Paraíso, em Bonito (MS), em frente ao famoso bar Pé na Jaca, está a casa onde o artista plástico Jonir Figueiredo, de 73 anos, foi encontrado morto na manhã deste sábado (26.jul.26). O local pertence ao dentista aposentado Elinelson José Limbert, de 66 anos, grande amigo de Jonir, que o hospedava sempre que o artista visitava a cidade. Foi nesta casa, repleta de memórias, obras de arte e afeto, que a reportagem do TeatrineTV foi recebida poucas horas após a morte do artista.
Na sala, ainda com a mesa de café da manhã posta — intacta —, Elinelson relembrou as últimas horas com o amigo. “Jonir é um amigo nosso de longa data, principalmente da minha esposa, Rita Pacheco Limbert. Todas as vezes que ele vinha para Bonito, se possível, ele ficava aqui em casa. Ele gostava muito. Ele me chamava de 'mano velho'.”

Jonir chegou à cidade na sexta-feira (25.jul.25) à tarde, vindo de Campo Grande, e foi acolhido com frutas, queijo, presunto, leite e água de coco, num café especial preparado por Elinelson. À noite, participou do lançamento da 3ª edição do Bonito CineSur – Festival de Cinema Sul-Americano.
"Eu peguei minha caminhonete, levei ele até o CineSur. Ele foi todo produzido. Sim, brilhante, com a blusa de oncinha. Eu falei: ‘É leopardo ou leão?’, porque eu brincava muito com meu irmão, mano velho. Ele queria que eu ficasse com ele, mas eu tinha outros compromissos. Deixei ele lá. Ele falou assim: ‘Não, você não sai com a caminhonete, deixa eu descer e dar uma passada, aí você sai’. Coisa do Jonir Figueiredo. Foi a última vez que conversei com o Jonir", detalhou Elinelson.

Jonir falou ao amigo que um mulher chamada Lia, que era uma pessoa de contato dele, iria "dar carona para trazer Jonir na volta".
O dentista recorda que, ao acordar em casa naquela madrugada, Jonir já estava no quarto. “À 1:15 eu acordei, ele já tava no quarto, a porta fechada, que eu deixei aberta. Apaguei as luzes, que eu deixei tudo iluminado aqui no quintal, que é grande. Falei: o Jonir chegou bem, graças a Deus. E voltei a dormir.”

Quando dia nasceu, um silêncio estranho ocupou a casa. “Acordo 7h, 7:30, fiz o café, arrumei o café dele, que ele era de acordar cedo, mesmo dormindo tarde. Ele não acordou, eu já estranhei. Respeito, eu não vou lá bater na porta dele? O quarto tem ar-condicionado, ventilador. 9:30, eu entrei no quarto, havia um cheiro esquisito. Mas ele tava com uma coberta cobrindo a cabeça. Pensei: ele deve ter tomado um porre, ele tava querendo dormir mais. Fechei.”
Elinelson saiu para comprar ingredientes para o mocotó que faria com amigos — refeição da qual Jonir participaria. "Fui comprar cerveja, salsinha e cebolinha, as outras coisas já estavam prontas. Ia fazer uma mocotó com os amigos, e avisei ele ontem: ‘Você vai no CineSur à noite, não come muito lá, que você vai comer uma mocotó aqui".

Mas ao retornar, percebeu que o amigo ainda não havia saído do quarto. “Às 11h, 11:30, eu falei: ‘Pô, não tá certo’. Fui lá, bati na porta, nada. Abri: um cheiro forte de novo. Abri a janela e ele tava com uma coberta no rosto. Tirei a coberta, pus a mão no braço dele, o braço dele não se mexia. Então, ele morreu há algum tempo", contou com a voz embargada.
Mesmo sem saber a causa da morte, Elinelson ligou imediatamente para amigos e buscou ajuda. “Ele teve uma parada cardíaca. Eu não sou médico, sou dentista, mas foi um mau súbito durante a noite e morreu. Sim. Aí eu fiquei desesperado. Que que eu faço? Liguei pra minha mulher, que está no exterior, que é amiga, irmã dele. Ela chorou, chorou", relatou.

Rapidamente Elinelson disse que chamou um vizinho que é bombeiro aposentado para verificar a situação. "Ele falou: ‘Liga no 193, Samu’. Vieram — um espetáculo de atendimento. Os caras vieram aqui já querendo socorrer. Eu falei: ‘Não adianta correr. Ele tá morto’. ‘Ah, mas quem é o senhor pra dizer?’ ‘Eu sou pessoa da saúde.’ ‘Mas vamos lá ver.’ Eles fora lá e disseram ‘Você tem razão’".
A reportagem do TeatrineTV confirmou junto a testemunhas que, apesar da presença ágil e cuidadosa do Corpo de Bombeiros e do SAMU, a Polícia Civil se recusou a comparecer ao local, sob justificativa de que não havia indícios de violência. Até o momento da entrevista, a causa oficial da morte ainda não havia sido atestada.
ONDE VIVEU PAULO RIGOTTI
Jonir restaurou espaços da casa que pertenceu a Paulo Rigotti | Foto: Tero Queiroz
A casa onde Jonir passou sua última noite também carrega histórias da arte. O terreno, que pertenceu ao professor e artista plástico Paulo Roberto Rigotti, falecido em 2012, abriga uma escultura funcional: uma ducha artística criada por Rigotti e recentemente restaurada por Jonir. "Ele, junto com Paulo Gorgulho, que era dono dessa casa que nós compramos da mãe dele, são dois grandes artistas. Vão se encontrar lá em cima. E na próxima feijoada, vou colocar a foto dos dois estará aqui.”

Na varanda, com o coração apertado, mas com a serenidade de quem sabe que a despedida foi em paz, Elinelson deixou uma mensagem ao amigo como quem brinda a vida. “Eu estou tomando uma cerveja. Fiz três brindes pra ele, no sentido de que ele não vai morrer para nós. Ele está presente. Mesmo porque ontem ele estava muito feliz com a mudança de ateliê, de casa nova, dos projetos dele. Tomou pinga com guavira comigo. Meu mano velho saiu daqui feliz e deixou a gente feliz. Viva o Jonir Figueiredo, meu mano velho", completou Elinelson.