Ex-vereador Tiago Vargas é condenado por ataque misógino contra artista em MS
Ele terá que pagar R$ 20 mil
1 AGO 2025 • POR TERO QUEIROZ • 12h23
O ex-vereador de Campo Grande (MS), Tiago Henrique Vargas, foi condenado a pagar R$ 20 mil por danos morais à artista Thalya Ariadna Palhares Veron, após a Justiça concluir que ela foi vítima de ataques misóginos promovidos pelo parlamentar durante uma sessão na Câmara Municipal, em dezembro de 2023. A sentença foi proferida pelo juiz Renato Antonio de Liberali, da 11ª Vara Cível, na última 3ª feira (29.jul.25). A decisão ainda cabe recurso.
Na ocasião, Vargas usou a tribuna para fazer comentários ofensivos sobre o corpo da artista e, posteriormente, publicou vídeo e foto em seu perfil no Instagram, que contava à época com mais de 100 mil seguidores. A postagem gerou uma enxurrada de ataques: em menos de 24 horas, foram mais de 850 comentários com xingamentos de cunho machista e misógino.
Testemunhas relataram que Vargas, além de incitar os seguidores, debochou da situação em áudios compartilhados nas redes. Thalya, que sofreu perseguição virtual e psicológica após o episódio, precisou mudar de cidade e buscar tratamento terapêutico. A situação motivou notas de repúdio por parte do Fórum de Cultura e de coletivos artísticos do Estado.
“Fui chamada de ‘vagabunda’, de ‘nóia’, de ‘macaca’. Fizeram chacota com meu corpo, com minha imagem. Eu fui um alvo”, desabafou Thalya em entrevista ao TeatrineTV. “Isso não foi só contra mim, mas contra todas as artistas mulheres que lutam por seus corpos e por suas liberdades”.
“QUE A JUSTIÇA SEJA FEITA”
Ao negar a tese de imunidade parlamentar apresentada pela defesa de Vargas, o juiz afirmou que houve “ofensa pessoal e difamatória”, não coberta pelas garantias constitucionais dos agentes públicos. A decisão ressaltou que a liberdade de expressão não pode se sobrepor à dignidade humana.
“Ele sabe o que fez e com qual intenção fez”, disse Thalya. “Estou nessa luta há mais de nove anos como artista. Tenho registro em carteira de trabalho desde 2012, sempre trabalhei para ajudar meus avós. Não sou suja, nem vagabunda e muito menos relaxada só porque não depilo a axila — isso não deveria ser motivo de perseguição. Isso mostra o atraso da política que ele representa”, declarou a artista.
Thalya também destacou o papel de sua advogada Janice Terezinha Andrade da Silva, que a acolheu no início do processo. “Foi ela quem me apoiou e me ajudou a enfrentar isso. Estamos lutando contra esses opressores que usam o poder para ofender e diminuir a população, principalmente artistas sul-mato-grossenses”.
AFEIÇOADO A MAMATA
Assim como vários personagens da extrema direita, Vargas tem o costume de se referir aos trabalhadores das artes de maneira ofensiva.
Mas é a família de Vargas que tem histórico de 'mamar nos cofres públicos'. Em abril de 2023, a reportagem do TeatrineTV revelou que, ironicamente, a irmã do então vereador ocupava cargo comissionado na extinta Secretaria de Cultura e Turismo (Sectur) com salário superior ao da própria secretária da pasta.
Tiago chegou a concorrer as eleições em 2024, mas saiu derrotado. Em janeiro de 2025, ele havia arrumado uma boquinha na prefeitura de Adriane Lopes (PP) ganhando a bagatela de R$ 15 mil por mês, entretanto, após isso virar notícia ele foi demitido pela aliada bolsonarista.
Apesar da condenação, a Justiça ainda não determinou retratação pública por parte do ex-parlamentar, como pede a artista. “Isso também faz parte de uma resistência minha como mulher, militante e artista. Meu corpo não é piada. Espero que ele pague pelo que fez”, concluiu Thalya.