Na Capital de MS, 'Três Mulheres Altas' reafirma poder da direção e entrega do elenco
Montagem acerta ao equilibrar densidade do texto com precisão cênica e sensível atuação
6 OUT 2025 • POR TERO QUEIROZ • 11h12
A temporada de 'Três Mulheres Altas' (de 1994), em Campo Grande (MS) — sessões realizadas nos dias 3, 4 e 5, no Teatro Glauce Rocha — reafirmou a força do clássico de Edward Albee (1928-2016), peça que atravessa gerações ao discutir, com mordacidade e humor ácido, a passagem do tempo e o envelhecimento.
A montagem, dirigida por Fernando Philbert — que reúne magistralmente ator, texto e sensação de participação da plateia — evidencia a complexidade das relações entre três mulheres em distintas fases da vida — juventude, maturidade e velhice — e a maneira como elas lidam com perdas, memórias e a inevitabilidade do tempo.
Para além de um simples retrato do envelhecimento — tema comum no teatro, cinema, TV, música etc. — Albee ('Quem Tem Medo de Virginia Woolf?') mergulha no significado do envelhecer em uma sociedade que valoriza a juventude e o desempenho, especialmente para as mulheres.
A peça questiona as imposições sociais e os papéis pré-definidos que atravessam gerações, trazendo à tona temas ainda urgentes, como liberdade feminina, opressão e expectativas culturais.
O elenco, agora composto por Ana Rosa, Helena Ranaldi e Fernanda Nobre, oferece uma performance densa e sutil, que traduz com sensibilidade as nuances dos personagens criados por Albee. A entrega das atrizes transforma a peça em um espelho para o público, que se vê confrontado com seus próprios medos, desejos e limitações.
No início deste ano, durante viagem a São Paulo, a peça havia sido assistida pela reportagem no Teatro Bravos; naquela ocasião, no elenco estavam as também geniais Suely Franco, Deborah Evelyn e Nathalia Dill.
Mesmo com a troca do elenco, a direção cuidadosa de Philbert — ex-marujo gaúcho, expoente incontestável do teatro carioca — potencializou o impacto do texto, atualizando a obra para o presente sem perder a essência do drama original.
Após circular por 13 cidades e ser assistida por mais de 70 mil espectadores, 'Três Mulheres Altas' encerrou sua passagem pela capital sul-mato-grossense, deixando rastros de um trabalho maduro, esperado, mas muitas vezes negligenciado quando se trata de montagens clássicas. No caso deste espetáculo, esse sintoma se diluiu.
O trabalho é produzido pela WB Entretenimento e apresentado pela Bradesco Seguros, via Lei Rouanet.