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FLORIFLUTO

Com a voz do imortal Ailton Krenak animação ensina ecologia no Cerrado

Diretor mato-grossense Perseu Azul lança série inspirado em plantas do quintal

15 OUT 2025 • POR TERO QUEIROZ • 17h00
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Série FloriFluto é lançada no Dia das crianças ensinando ecologia. Foto: Reprodução

Uma orquídea inteligente e um jatobá exibido que viajam pelo cerrado em uma canoa-casco de jabuti. Essa é a premissa de FloriFluto, nova minissérie infantil de animação que estreou no Dia das Crianças (12.out.25) e busca, de forma lúdica, conectar os pequenos à flora brasileira e à importância do equilíbrio ambiental.

A produção, realizada pela Cérberos Filmes com recursos da Lei Paulo Gustavo, é ambientada no riacho Xuaxuá, onde os protagonistas Flori e Fluto ajudam humanos a resolver problemas ecológicos que eles mesmos criaram. O projeto, sediado em Chapada dos Guimarães (MT), une talentos locais e nomes de peso da cultura nacional.

A inspiração para dar protagonismo às plantas, de forma fiel à sua natureza, nasceu de um gesto cotidiano. O criador e diretor da série, Perseu Azul, explicou como a ideia se originou e o desafio que a motivou.

"Surgiu enquanto eu regava as plantas do quintal. Eu sempre quis fazer uma obra para retribuir às plantas a generosidade delas, uma pequena homenagem. Já vi outras obras em que plantas são personagens, mas elas sempre têm pés, pernas, mãos e braços, por isso deixam muito de ser plantas e se tornam muito parecidas com a gente. O desafio de fazer personagens plantas o mais próximo do que elas realmente são também está no cerne da criação de FloriFluto", introduziu o diretor.  

Visualmente, a série aposta em uma identidade própria, que mescla técnicas para criar uma atmosfera acolhedora para o público infantil. O artista mato-grossense Lucas Ferreira, responsável pela direção de arte, detalha o processo e as intenções por trás do estilo visual. "FloriFluto passa por um processo de criação no papel, e depois digitalizo e aplico as cores digitalmente. O estilo, em específico, foi uma ideia minha. Após anos percebendo que as animações infantis eram, em sua maioria, muito “flat” e sem textura — focadas em cores saturadas e quentes — decidi trazer uma linguagem mais serena", detalhou. 

Ainda segundo Lucas, morador Sorriso (MT) ao usar o marrom em destaque, busca usar uma cor pouco explorada nesse tipo de produção. "Incluí as texturas de pincel, e de lápis, para estimular a criatividade da criança. O grande desafio para mim foi manter a mesma essência em todos os episódios, sem deixá-los todos iguais. Gosto de poder desbravar a direção da arte, com liberdade, assim como a imaginação infantil. E tudo isso só é possível com técnica, pesquisa e muito trabalho", comentou. 

IMORTAL DÁ VOZ A JATOBÁ

O líder indígena e escritor Ailton Krenak dá voz ao personagem Fluto, um Jatobá.  Foto: Cérberos Filmes O líder indígena e escritor Ailton Krenak dá voz ao personagem Fluto, um Jatobá. Foto: Cérberos Filmes 

Um dos grandes destaques da produção é a participação do líder indígena e escritor Ailton Krenak — imortal que ocupa a cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL) — que dá voz ao personagem Fluto, um Jatobá.  

A escolha, segundo o diretor, foi uma conexão natural com a essência da narrativa. "A escolha de Ailton veio após a criação da série, foi muito natural. Ele tem uma postura de jatobá, altivo, resiliente e generoso. A escolha de um indígena para fazer o protagonista está alinhada à visão destes povos como guias da humanidade para o cuidado com a terra e o clima, pois eles possuem esses conhecimentos e tecnologias de convivência com a natureza muito mais desenvolvidos que qualquer outro grupo", explicou Perseu. 

PRODUÇÕES FORA DO EIXO

Realizada fora do eixo Rio-São Paulo com financiamento público, a minissérie representa a força da produção audiovisual descentralizada.

Para Perseu Azul, o interesse por essas obras independentes tem ganhado espaço no mercado, mas ainda enfrenta barreiras. "O interesse nacional por conteúdos regionais só vem crescendo. Falta que os grandes canais de produção (que não dependem de verbas públicas) acreditem nos talentos do interior do Brasil e deixem de enviar emissários dos grandes centros para policiar e capitanear as produções que esses players eventualmente fazem fora do eixo", concluiu o diretor.  

CRIAÇÃO PARTICIPATIVA E ACESSIBILIDADE AMPLA

A série 'FloriFluto' se propõe  a dialogar com o cerrado e os saberes de comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas que habitam esse território.

Para garantir uma representação genuína, a produção integrou essas vozes ao processo criativo. "A gente faz isso trazendo para dentro do processo de criação pessoas que vivem essas realidades, então tudo acaba fluindo de forma muito natural. Fora isso, as crianças são muito inteligentes e percebem coisas que adultos não percebem. Além do que, se algum conhecimento mais científico gerar dúvida e curiosidade, consideramos nosso objetivo principal atingido, que é fazer com que elas se interessem e pesquisem mais a respeito do meio ambiente", apontou o diretor.  

Perseu revelou o desejo de alcançar vários público, por isso a série dispõe de recursos de acessibilidade ampla (legenda, audiodescrição e LIBRAS) e será traduzida."Desde o princípio pensamos a acessibilidade de forma ampla, não só as que se relacionam ao acesso de pessoas com limitações de visão e/ou audição, mas também pensamos em gerar diálogos de entendimento popular, imagens com poucos estímulos para resguardar os pequenos e pequenas, assim como pensamos em trazer de forma lúdica conceitos de botânica. Ampliando o alcance da série, estamos preparando e vamos divulgar no mês que vem versões dos episódios inteiramente em inglês e espanhol, até as músicas estão sendo traduzidas, dubladas e regravadas", concluiu o diretor.

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