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ENFISEMA PULMONAR

Jards Macalé, ícone da poética marginal, morre aos 82 anos

Compositor de clássicos como 'Vapor Barato' e 'Mal Secreto', artista deixa legado marcado pela ruptura estética e pela fusão entre samba, rock e experimentalismo

17 NOV 2025 • POR TERO QUEIROZ • 17h47
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Morre no Rio, o músico, compositor e ator Jards Macalé, aos 82 anos. - Instagram/jardsmacaleoficial

A Música Popular Brasileira perdeu, na tarde desta 2ª feira (17.nov.25), uma de suas figuras mais inquietas e originais. O compositor, cantor e violonista Jards Macalé faleceu aos 82 anos, no Rio de Janeiro. O artista estava internado em uma unidade hospitalar na Barra da Tijuca para o tratamento de um enfisema pulmonar e sofreu uma parada cardíaca após complicações de um procedimento cirúrgico recente.

Nascido na Tijuca em 1943, Macalé construiu uma trajetória que correu paralela — e muitas vezes em rota de colisão — aos grandes movimentos musicais do país. Embora contemporâneo da Tropicália, situou-se como um expoente do que se convencionou chamar de "geração marginal" ou "maldita", não pela qualidade da obra, mas pela recusa em aderir às facilidades do mercado fonográfico.

ARQUITETURA DO CAOS SONORO

Sua estreia profissional se deu nos anos 1960, tendo sua primeira composição gravada pela divina Elizeth Cardoso, em 1964. Contudo, foi a apresentação da canção “Gotham City” no IV Festival Internacional da Canção, em 1969, que definiu sua persona pública: uma performance visceral e dissonante que chocou a audiência tradicional, antecipando a estética punk no Brasil.

O álbum homônimo de 1972 consolidou sua assinatura: uma fusão sofisticada de bossa nova (tendo sido aluno de Guerra-Peixe), rock, jazz, samba e choro. Essa amálgama sonora serviu de cama para letras cortantes, muitas vezes frutos de parcerias com poetas fundamentais como Waly Salomão, Torquato Neto e Capinan.

INTÉRPRETE E RENASCIMENTO

A obra de Macalé ganhou dimensão popular também nas vozes de grandes intérpretes. Gal Costa, em especial, imortalizou canções como “Vapor Barato”, “Hotel das Estrelas” e “Mal Secreto”, transformando-as em hinos de resistência comportamental durante os anos de chumbo e a abertura política.

Longe de se tornar uma peça de museu, Macalé viveu um vigoroso renascimento artístico na última década, dialogando com novas gerações. O aclamado álbum “Besta Fera” (2019) provou sua relevância contínua, trazendo o artista em plena forma criativa e reafirmando seu lugar vital na cultura nacional.

Até o fechamento desta matéria, a família não havia divulgado detalhes sobre o velório e sepultamento.