Mães denunciam golpes de coordenadora do Pequena Miss Mato Grosso
Acusada é a mesma que realiza o Miss Universe MS
28 DEZ 2025 • POR TERO QUEIROZ • 02h12
Jade Nunes voltou a ser denunciada à reportagem do TeatrineTV neste sábado (27.dez.25). Mães de misses juvenis que competiram pela coroa num concurso intitulado Pequena Miss Mato Grosso — que deveria ter sido realizado em outubro, mas acabou adiado, após falhas, para 6 de dezembro — que também tem Jade como coordenadora, acusaram Jade de supostos golpes financeiros, além de distorção de resultados de quem foi campeã da foto mais curtida.
De acordo com a mãe de uma das candidatas, ela pagou cerca de R$ 1 mil para a filha participar do concurso, que acabou ocorrendo em uma sala sem estrutura nenhuma. Leia os detalhes abaixo.
CAOS
Misses foram julgadas em uma sala improvisada, sem qualquer estrutura ou aparato técnico compatível com um concurso de beleza. Crédito: Cedida ao TeatrineTVO cenário descrito pelas famílias apontam para um caos logístico e financeiro.
“Houve risco de todas serem despejadas do hotel por ela [a coordenadora] não ter pago [as diárias]. Pegou o dinheiro e não pagou”, relatou uma das mães, descrevendo o ambiente como "uma bagunça generalizada".
Outra mãe, que preferiu não se identificar, enviou à reportagem detalhes sobre a precariedade do local, classificado por ela como um “evento meia coxa”.
“Aquele evento ‘lindo e glamouroso’ prometido pela organizadora, deu lugar a uma sala com fios a mostra, sem nem uma cortina para pelo menos fazer fotos bonitas”, disparou.
A falta de suporte teria gerado consequências graves para a saúde mental das participantes.
Segundo uma das mães denunciantes, durante o confinamento da categoria teen, a negligência foi tamanha que "uma das meninas queria se suicidar". Efeito, que as mães acreditam, ter sido desencadeado pelo desgaste emocional a que as menores foram submetidas.
DISTORÇÃO DE RESULTADOS E FAVORITISMO
A idoneidade do julgamento é outro ponto central das acusações. Mães afirmaram que o concurso teve "cartas marcadas".
“Três juradas que estavam julgando eram todas da agência de uma das coordenadoras, e a própria campeã também era agenciada por uma das coordenadoras. Então não tinha o que fazer”, desabafou a mãe da vice-campeã, que enviou vídeos que comprovam a disparidade no desfile.
Outro relato aponta que, mesmo com a confirmação de notas máximas por parte dos jurados, o resultado final foi alterado.
“Os jurados confirmaram para a mãe da (***), que todas deram 10, porém ela não ganhou”, disse uma testemunha, reforçando a tese de que havia "favoritismo desde o começo".
A mãe de uma outra adolescente que concorreu, reforçou disse que também notou manipulação para concentrar prêmios.
“Não estou questionando o mérito da vencedora do concurso, menina belíssima... porém em outra categoria é óbvio que teve alguma alteração. Uma vez que por favoritismo preferiu dar quase todos os títulos a uma só pessoa”, ponderou.
O CASO ‘MISS POPULARIDADE’: CURTIDAS OU INGRESSOS?
Menina que recebeu mais votos não foi eleita Miss Popularidade devido a mudança repentina nos critérios de eleição. A candidata que teve mais de 600 curtidas perdeu para a candidata que recebeu pouco mais de 100 curtidas. Fotos: ReproduçãoA revolta se intensificou em torno da faixa de Miss Popularidade. O regulamento oficial do Pequena Miss MT — que deveria ser público, mas é privado — segundo as mães, previa que a vencedora seria definida por curtidas e engajamento no Instagram.
“Eu não comprei votos. Foi tudo boca a boca, família e conhecidos. A minha filha ganhou o Miss Popularidade”, afirmou a mãe da candidata que teve o maior engajamento.
Contudo, após o encerramento, a narrativa da coordenação mudou.
“Os coordenadores disseram que quem ganhava a popularidade era quem mais vendesse ingressos, mas no regulamento está escrito que não”, destacou a denunciante.
Outra mãe enfatizou que a mãe da vice-campeã tem rezão em questionar a organização, já que a decisão a toque de caixa, confronta o regulamento apresentado às candidata durante o concurso.
“No regulamento, a gente tinha bem claro, que miss popularidade seria avaliado por números de curtidas no post do Instagram. E depois colocaram outra pessoa como ganhadora, usando outros critérios (vendas de ingressos)”, confirmou outra mãe de candidata que procurou a reportagem neste sábado.
Regulamento enviado à reportagem comprova que o título de Miss Popularidade deveria ser concedido à candidata que recebesse mais apoios na publicação da foto no Instagram. Crédito: Prints cedidos ao TeatrineTVEssa mãe ainda apontou que a mudança contradiz o que foi acordado. “Que não corresponde ao que foi falado em reunião, e nem o que está no regulamento. Regulamento que ela [Jade Nunes] mesmo fez”.
Além da frustração com o resultado, as famílias relatam uma progressão de cobranças extras.
“No dia seguinte ao concurso, chamaram minha filha para fazer fotos oficiais e eu tive que pagar a coroa e a maquiagem”, contou uma mãe.
Para a etapa nacional, o valor exigido pela coordenação de Jade Nunes foi de R$ 5 mil, apenas pela inscrição.
JUSTIFICATIVAS E AMEAÇAS
No perfil masculino, Jayson Silva (Jade Nunes) diz representar exclusivamente concursos de beleza infantil. Entre eles, afirma ser CEO do Miss Mato Grosso Teen, Pequena Miss Mato Grosso e Miss Mato Grosso Terra.Confrontada via aplicativo de mensagens sobre o resultado da popularidade, a coordenadora — que utiliza o nome social Jade Nunes, mas se apresenta às mães pelo seu nome masculino, Jayson Silva (que mora em Rondonópolis) — justificou a não entrega da faixa alegando suspeita de fraude digital.
“A maioria dos posts de muitas candidatas está tendo compra de curtida. Não tem como a gente saber se foi comprado ou não, porque é curtida fake”, argumentou a organizadora nas conversas anexadas à denúncia. Ela admitiu, no entanto, não ter provas materiais: “A gente não tem prova referente a isso, tá? Mas é a nossa visão”, justificou Jade à uma das mães, em áudios que o TeatrineTV teve acesso.
Ao ser cobrada pela mãe de uma das candidatas, a postura da coordenadora foi defensiva, citando cláusulas contratuais para silenciar as críticas.
“Sair espalhando isso em rede social é caso de processo. Isso tá em contrato que todas as mães assinaram: qualquer coisa que degrade a imagem da vencedora ou da organização do concurso não pode acontecer”, escreveu Jade, confirmando ainda que a organização ocultou comentários nas redes sociais para abafar a repercussão negativa.
As novas denúncias surgem dias após Jade Nunes (ou Jayson Silva) protagonizar uma polêmica nacional ao afirmar, após o Miss Universe MS, que "não tinham bonitas em Mato Grosso do Sul", fala que gerou revolta em candidatas e na população do estado vizinho ao Mato Grosso.
O QUE DISSE JADE NUNES SOBRE AS NOVAS ACUSAÇÕES
Jade Nunes (à dir.) ao lado de Lauriane Pires, vencedora do Miss Universe MS, outro concurso organizado por Jade. Tanto Jade quanto Lauriane são moradoras de Rondonópolis (MT). Foto: InstagramProcurada pela reportagem do TeatrineTV neste sábado (27.dez.25), Jade Nunes enviou a seguinte declaração sobre as acusações das mães de misses do concurso mato-grossense:
"Todas as alegações mencionadas são graves, infundadas e carecem de comprovação formal.
O Concurso Pequena Miss Mato Grosso não reconhece as acusações apresentadas e reafirma que atua de forma regular, transparente e em estrita observância à legislação vigente.
Eventuais questionamentos ou inconformidades por parte de representantes ou terceiros deverão ser formalizados exclusivamente pelos meios legais adequados, permitindo a devida análise e apuração, nos termos da lei.
Ressaltamos, ainda, que a divulgação irresponsável ou indevida de informações sem respaldo probatório pode causar danos à imagem e à reputação do concurso, razão pela qual adotaremos todas as medidas cabíveis para resguardar nossos direitos e a integridade institucional do evento".
O QUE DIZEM AS PARTES
A reportagem do TeatrineTV enviou perguntas ao Pequena Miss Brasil, responsável pelo licenciamento do Pequena Miss Mato Grosso.
A equipe questionou se a organização nacional tem conhecimento das denúncias envolvendo Jade Nunes e das alegações relacionadas à organização do evento em nível nacional.
Também foram encaminhadas perguntas a Marcos Utrera, CEO do Mini Universo, entidade que licencia o Pequena Miss Brasil.
Entre os questionamentos, está se a organização do Mini Universo tem conhecimento das situações alegadas e se compactua com práticas apontadas como problemáticas na competição realizada na região Centro-Oeste do Brasil.
