Cheia de processos, Pequena Miss Brasil apoia concurso de MT e tenta coagir a imprensa
Organização nacional Marcelo Ramos acumula denúncias graves no Ministério Público por realizar eventos com menores sem alvará e em contexto de 'adultização'
30 DEZ 2025 • POR TERO QUEIROZ • 10h41
A direção nacional do concurso Pequena Miss Brasil (ligada à empresa Marcelo Ramos Eventos de Beleza e Produções Artísticas LTDA ME) saiu em defesa da coordenação de Mato Grosso, recentemente alvo de denúncias de mães por supostos golpes. Ao ser questionada pelo TeatrineTV sobre as irregularidades no estado, a organização nacional afirmou que a estadual "sempre honrou com os compromissos" e tentou desqualificar o trabalho jornalístico, exigindo: "Favor não incomodar a coordenação internacional".
Enquanto a reportagem esperava a resposta do Pequena Miss Brasil, obtivemos documentos que revelam que a própria organização nacional enfrenta uma enxurrada de processos e investigações no Ministério Público do Paraná e na Vara da Infância e da Juventude, acusada de colocar crianças e adolescentes em risco e de operar à margem do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Dentre as acusações contra o Pequena Miss Brasil, consta alegada "Adultização" de crianças e falta de alvará para realização de concursos.
Segundo denúncias formais apresentadas ao Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR) e à 1ª Promotoria de Justiça da Criança e do Adolescente de Curitiba, a empresa de Marcelo Ramos é investigada nos autos do processo n.º 0005981-36.2025.8.16.0188 por supostas irregularidades na realização dos certames Miss Brasil Teen e Miss Model Teen Brasil.
A reincidência é um dos pontos centrais das denúncias. Mesmo ciente das investigações em curso, o organizador voltou a realizar concursos — como o Miss Teen Planet em outubro de 2025 — também sem a devida Autorização Judicial, documento obrigatório para eventos envolvendo menores de idade.
O modus operandi se repete em Mato Grosso. Informações obtidas pela reportagem mostram que o Conselho Tutelar de Cuiabá precisou intervir no Pequena Miss Mato Grosso realizado no dia 12 de outubro de 2025, no Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros. Esse concurso organizado por Jade Nunes.
A denúncia foi encaminhada ao plantão do Ministério Público e à Vara da Infância e Juventude devido à falta de legalidade para executar o evento e votações online envolvendo imagens de crianças e adolescentes. O órgão também alertou para a "adultização" nesses certames e a obrigatoriedade de alvará judicial, algo que os organizadores frequentemente tentam burlar alegando que apenas a autorização dos pais seria suficiente.
CRIANÇAS EM RISCO E PAIS PROIBIDOS DE ENTRAR
As denúncias protocoladas contra a gestão de Marcelo Ramos relatam cenários preocupantes de negligência. Em um dos eventos realizados em Curitiba, os pais e responsáveis foram expressamente proibidos de se hospedar no mesmo quarto que suas filhas no hotel oficial, sendo impedidos de dar assistência direta às menores. As mães também não tinham autorização para entrar nos camarins, deixando crianças e adolescentes meninas à mercê da equipe de produção, descrita na denúncia como sendo composta "em sua maioria por homens".
A segurança no transporte também foi alvo de alerta às autoridades. Durante o concurso, candidatas foram transportadas para o parque Beto Carrero World e para Balneário Camboriú em ônibus fretados onde, segundo vídeos anexados ao processo, as adolescentes viajavam sem cinto de segurança e dançavam com o veículo em movimento, em trechos rodoviários perigosos.
A INDÚSTRIA DA VOTAÇÃO ONLINE
Outro ponto que une as denúncias nacionais às de Mato Grosso é a exploração financeira da imagem das menores. A organização é acusada de criar votações online pagas para títulos de "Popularidade", utilizando sites hospedados fora do Brasil para dificultar a fiscalização e aferir valores monetários sem controle judicial.
O Conselho Tutelar de MT foi taxativo ao classificar essa prática em conversa obtida pela reportagem: "Essa Organização está em vários certames, sem a devida legalidade para executar votações ON LINE e pagas utilizando imagens de crianças e adolescentes".
PROCESSOS ESPALHADOS PELO PAÍS
Além das investigações no Ministério Público do Paraná, a reportagem teve acesso a registros de processos que tramitam no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). Nas comarcas de Caxias do Sul e Feliz, a organização e seus responsáveis enfrentam ações datadas de 2023 e 2025. Os processos envolvem desde a esfera criminal, com acusações de difamação (art. 139), até a esfera cível, com pedidos de indenização por danos materiais e morais, reforçando o histórico de conflitos judiciais da empresa.
Além disso, ao menos três famílias processam a organização do Pequena Miss Brasil de Marcelo Ramos.
TENTATIVA DE COAÇÃO
Ao responder à reportagem do TeatrineTV, a organização nacional tentou inverter a narrativa, alegando que "quando ganhou uma candidata do Mato Grosso do Sul em nosso concurso anos atrás nenhum site nos procurou". A tentativa de silenciar a cobertura jornalística ("não é necessário postagem") contrasta com a gravidade dos fatos.
Enquanto a organização pede para "não ser incomodada", os processos se acumulam.
As denúncias pedem não apenas a investigação, mas a suspensão dos certames e a interdição cautelar das atividades da empresa, citando infrações aos artigos 149, 250, 251 e 258 do ECA.
O QUE DISSE O MINI MUNDO
Procurado pela reportagem para comentar a bagunça que se tornou o concurso no Mato Grosso, o CEO do Mini Universo, Marcos Utrera, que licencia o Pequena Miss Brasil, disse:
"Nós, da organização Mini Universe, não temos conhecimento dessa situação. Portanto, entraremos imediatamente em contato com nossa franqueada neste caso, Little Miss Brazil [Pequena Miss Brasil]".
O TeatrineTV mantém o espaço aberto para manifestação de todos os citados, reafirmando seu compromisso com a proteção dos direitos da criança e do adolescente e com o jornalismo investigativo.
