Cantor, compositor, letrista e instrumentista, carioca de nascença, mas criado em Campo Grande(MS), Paulo Simões, aos 69 anos, disse ter ficado de “pernas bambas”, ao receber sua 1ª homenagem da carreira, feita em disco e no show 'Maria Alice canta Paulo Simões', na noite do sábado (10.set.22), na Concha Acústica Helena Meirelles, no Parque das Nações Indígenas.
“Maria Alice é uma companheira querida de várias experiências da minha carreira, da minha vida, ela teve essa iniciativa que me deixou de pernas bambas, porque foi a primeira vez que eu tive uma homenagem desse tipo”, introduziu em entrevista ao TeatrineTV, no palco, no final do show. Ele estava sendo bastante abraçado e solicitado para fotos com fãs que lotaram o palco da arena.
Reconhecido por letras de sucesso na voz de Renato Teixeira, Chitãozinho e Xororó ("Lobo da Estrada"), Sandy & Júnior, Diana Pequeno, Tarancon, Maria Bethânia, Michel Teló ("Vida Bela Vida"), Zezé Di Camargo & Luciano ("A Saudade É Uma Estrada Longa"), além do parceiro de longa data Almir Sater, o que contribuiu para tornar suas canções conhecidas nacionalmente.
Considerado um dos principais criadores da linguagem musical contemporânea em MS e um gigante da música brasileira, em sua 1º homenagem da carreira, Paulo estava visivelmente emocionado. Ele explicou ao repórter que ceder entrevista em tal condição poderia render "chavões": "E eu odeio chavões!", deixou claro.
Após cumprimentar dezenas de fãs, enfim, conseguimos uma breve conversa com Paulo. O artista explicou que Maria foi muito cuidadosa na concepção do disco e mais incrível ainda na noite inaugural do show, quando ele cantou ao lado dela: "Ela teve a gentileza de cantar uma música só minha!", disse emocionado.
Mostramos aqui no TeatrineTV que Maria Alice escolheu um repertório seleto para o disco e para o show. A ideia da intérprete era mostrar ao público as canções menos gravadas e conhecidas de Simões. "É uma sensação boa por um lado, por outro lado tem um ‘q’ de desafio de falar: Paulo Simões, não pensa que você já pode descansar, se deitar no sofá e ficar vendo TV a cabo, Liga dos Campeões, ou algo do tipo... pela reação das pessoas aqui e pelo número de músicas que eu ainda estou fazendo e que ainda não são conhecidas, a batalha continua”, comentou Simões.
CARREIRA
O primeiro disco individual de Paulo veio ao mundo em 1992: o “Paulo Simões & o Expresso Arrasta-Pé Volume I”, que incluía suas composições mais conhecidas até então, como "Trem do Pantanal" (com Geraldo Roca), "Comitiva Esperança" e "Sonhos Guaranis" (com Almir Sater) e "O Lobo da Estrada" (com Pedro Aurélio), esta última transformada em sucesso nacional por Sérgio Reis. O disco marcou também o lançamento do selo "Sauá", de Simões e Guilherme Rondon, responsável por incluir Mato Grosso do Sul no mapa fonográfico brasileiro.
Em 1994, Simões iniciou o projeto "Chalana de Prata", grupo que reuniu quatro expoentes da música de MS: Simões, Celito Espíndola, Guilherme Rondon e o sanfoneiro Dino Rocha, sendo seu primeiro CD lançado em 1998, com grande repercussão.
No mesmo ano, Simões lançou o “Expresso Arrasta-Pé Volume 2”, onde se destacaram as músicas "Vida Bela Vida" (com Rondon) e "Labaredas" (com Rondon e Celito Espíndola), logo gravadas por diversos artistas regionais.
O álbum Rumo a 2 Mil e Uns trouxe seus trabalhos em parceria com o multi-instrumentista Antônio Porto, responsável pela direção musical deste CD. Nele, prevaleceu a incorporação de elementos regionais e fronteiriços sul-mato-grossenses ao universo da música popular brasileira. Inclusive, Antônio Porto cantou ao lado de Simões na noite de homenagem no sábado. Ao longo dos 30 anos de carreira, Paulo fez mais de 97 músicas de sucesso.
Ele conquistou o Prêmio Sharp de Melhor Composição Regional por Paiaguás em parceria com Guilherme Rondon em 1992. Paulo Simões também foi indicado ao 17º Grammy Latino de 2016 na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa com a composição "D de Destino" em parceria com Almir Sater e Renato Teixeira no álbum "AR".
Apesar de sua vasta colaboração para a música nacional e para a música sul-mato-grossense, Paulo Simões nunca havia recebido o reconhecimento devido até que Maria Alice o apresentou a ideia do disco e posteriormente do show intitulado “Maria Alice, Canta Paulo Simões”. Ela falou recentemente ao TeatrineTV que além de admiração, sentia uma conexão ancestral com Paulo Simões e sua música. Veja AQUI.
Paulo explicou que a descendência a qual Maria se refere é em referência a recente descoberta de que eles têm raízes maracajuenses, mas para ele, o que define o disco e o show é a conexão entre eles por meio da música. “Outra coisa que a gente compartilha, que nos reuniu e que está na origem desse show, é a nossa atitude com relação a música. A música, não daqui, não de lá, a música! Nosso respeito pela inteligência das pessoas, bem como a sensibilidade... a gente não precisa ser sempre inteligência, mas a gente pode deixar as emoções afloram e tudo isso está escrito no nosso DNA”, completou. Veja como foi o show em imagens:
VALORIZAÇÃO ARTÍSTICA
O vereador campo-grandense, Ronilço Guerreiro (Podemos), foi assistir o show no sábado e aproveitou para entregar a Paulo uma moção de congratulação em razão da expressiva colaboração do artista para a cultura da cidade. “É de arrepiar, né? As pessoas sempre valorizam os outros quando as pessoas não estão mais aqui, aí querem colocar nome em prédio, avenidas, só que nós precisamos valorizar as pessoas em vida. Porque ele está aqui agora, agora que se tem que falar muito obrigado, parabéns pela sua luta. Parabéns pela sua trajetória! Momentos como esse são ímpar na vida de qualquer um. Que coisa linda ver o Paulo Simões receber em vida uma homenagem linda como essa. Quando se diz que ele nunca tinha recebido uma homenagem dessa é triste, nós precisamos resgatar, principalmente provocar neles vontade de fazer mais. O artista vive com emoção, hoje eu saí daqui em êxtase com essas músicas: ‘quem não souber dançar, pode se acomodar na varanda”, disse o vereador, que é presidente da Comissão de Cultura na Câmara.
A reportagem questionou Guerreiro sobre o porquê o Legislativo Municipal não propõe políticas públicas que obriguem a prefeitura a fortalecer a valorização dos artistas regionais. “Nós aprovamos na Câmara Municipal de Campo Grande e já foi sancionado pela prefeita Adriane Lopes, que nós precisamos, todos os escritores regionais... Todos os Paulo Simões, quem tem livro, Mara Calvis, as escolas municipais deverão adotar dois livros a partir de agora para o currículo escolar. Então, nós estamos provocando sim, é meu primeiro mandato de vereador e nós já estamos trazendo para casa essa cobrança”, sustentou.
O vereador concluiu dizendo que está disposto a ser provocado pelos artistas para perfilar esse projeto de fortalecimento dos artistas regionais.
Antes de sair...
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