O multiartista, Rodrigo Mallet, ministrou de 5 a 11 de junho, a Oficina de Acrobacia, do projeto 'Circo.Lação', da Cia Pisando Alto, idealizado pela artista e produtora Fran Corona, em Campo Grande (MS).
Com pós-doutorado, doutorado e mestrado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Mallet é reconhecido nacionalmente no cenário artístico do circo, mas sua simplicidade, generosidade e capacidade de conexão profissional com os alunos de diversos níveis técnicos, sobrepõe os títulos.
Tendo acumulado conhecimentos como acrobata, malabarista, palhaço, ator, professor e pesquisador, ele disse que desejou sim, passar técnicas aos 12 artistas inscritos na oficina, mas, além disso, quis trocar ideias, vivências com os profissionais e ampliar repertórios.
![O mestre Rodrigo Mallet, durante Oficina de Acrobacias na sede da Cia Pisando Alto, em Campo Grande (MS). Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/rodrigo-1024x682.jpg)
“Mais do que vir aqui ensinar algo, eu vim aqui oferecer uma experiência diferente e juntar com a experiência das pessoas daqui, para quem sabe criar algo, para a transformação do conhecimento. Eu quis ampliar meu repertório e o das pessoas que estão aqui”, introduziu numa conversa com o TeatrineTV ao final da oficina, no domingo (11.jun.23).
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O ministrante veio à Capital de MS acompanhado da esposa, Rebecca Stauffer e da filha do casal, Gal, de 4 meses. Rebecca também é artista de circo e auxiliou Mallet na realização de algumas figuras em dupla. A família vive em Curitiba (PR), onde comandam projetos por meio da Cia Bravata — Companhia de Circo e Teatro.
![Rebecca Stauffer realiza acobacia como volante para Rodrigo Mallet, durante oficina em Campo Grande (MS). Foto: Reprodução](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/Imagem-do-WhatsApp-de-2023-06-10-as-20.04.54-1024x682.jpg)
![Da esquerda para a direita: Moreno Mourão, Rodrigo Mallet, segurando Gal no colo, Rebecca Stauffer e Fran Corona. Foto: Reprodução](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/fty-1024x770.jpg)
Assistente de Produção do projeto, Moreno Mourão, contou como conheceram Mallet. “A gente conheceu o Rodrigo Mallet na Escola Basileu França de Goiás, em 2022, quando fomos fazer uma formação de técnica circense lá, onde ele era o coordenador. A didática dele é bem legal para ensinar acrobacia, portagem, o passo a passo até chegar nas figuras. Aqui em Campo Grande eu e Fran sentimos a necessidade de ter esse conhecimento que fomos buscar em outro estado. E com o projeto Circo.lação do FIC, pensamos não haver ninguém melhor que ele para vir nos transferir conhecimentos", esclareceu.
![Moreno Mourão é auxiliado por Rodrigo Mallet em exercício durante oficina de acrobacias. Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/moreno--1024x662.jpg)
Na sede da Cia Pisando Alto, na Rua Joaquim Murtinho, 2204, ministrante e inscritos da oficina se reuniram sempre das 14h às 18h, ao longo de 7 dias. Ininterruptamente os desafios foram sendo superados, tanto no que tange ao obstáculos físicos, quanto aos estruturais.
Moreno apontou a oficina como a possibilidade de real vivência e aprendizado. “A oficina de uma semana nos dá possibilidades de trabalhar e desenvolver de fato. Tivemos 7 dias de passo a passo, de como chegar em um resultado, para alcançar uma efetividade, chegar às figuras desejadas. Então, o passo a passo do Mallet, nos dá oportunidade de que haja um caminho para a técnica e para o corpo”, sustentou.
![Preparação física intensa é parte da oficina de acrobacias ministrada por Rodrigo Mallet em Campo Grande (MS). Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/8-1-1-1024x602.jpg)
Fran celebrou a presença do profissional e citou o fortalecimento da rede circense na Capital. “Foi uma honra ter o Mallet aqui com a gente. Fico feliz de ter conseguido com esse projeto ampliar o acesso à formação. Vamos formar uma rede também, mais gente para se encontrar e treinar”.
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Uma das integrantes da oficina, Ana Flávia, disse que teve algumas experiências com circo, mas as oficinas rápidas não a permitiram atingir as conquistas obtidas na semana com Mallet. "Com essa oficina contínua foi completamente diferente, porque conseguimos pegar os movimentos na cabeça e no corpo, né?", comentou.
![Ana Flávia em 2ª altura durante oficina ministrada por Rodrigo Mallet, em Campo Grande (MS). Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/ana-flavia--689x1024.jpg)
Sobre os 7 dias imersos em aprendizado circense, Ana foi objetiva: "Para mim, foi surpreendente, porque havia movimentos que eu tinha medo, mas aí observando e escutando as instruções do Mallet. Eu vi com a cabeça que algumas coisas eu não iria conseguir, mas quando cheguei aqui consegui fazer a parada de mão com o apoio do ministrante. Achei necessária essa oficina mais longa, porque geralmente temos oficinas curtas. Essa foi uma semana muito intensa, impressionante e o desejo é que continue".
Na semana, os inscritos nas oficinas realizaram preparos físicos e tiveram acesso à noções de acrobacias de solo, figuras na 2ª altura e introdução ao "mão a mão" (acrobacias a partir de duas pessoas).
FORMAÇÃO E ESPAÇO CIRCENSE
![Mestre Rodrigo Mallet cita a importância do intercâmbio cultural. Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/rodrigo-2--1024x682.jpg)
Para Mallet o projeto de Fran e Moreno possibilitou um intercâmbio de maneira certeira.
“É preciso trocar, seja com os grupos, artistas daqui, ou com os profissionais de fora. O caminho para o fortalecimento do circo é trazer profissionais especialistas em determinadas técnicas, para talvez desenvolver esses grupos circenses daqui. O projeto fortalece isso, com essa iniciativa pessoas que talvez não tivessem possibilidade conseguiram acessar técnicas mais apuradas, com determinada metodologia”, avaliou.
![Artista Frank Salomao (@salomaofrank) realiza salto durante oficina de Rodrigo Mallet, em Campo Grande (MS). Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/mais--570x1024.jpg)
Na Capital sul-mato-grossense, na visão de Mallet, tem algumas áreas culturais que se destacam e outras que são carentes de formação.
“A cena aqui, pelo que tenho visto, é forte o teatro, a dança em alguns sentidos… O circo ainda precisa alavancar algumas coisas, ter mais grupos, subir níveis técnicos de algumas modalidades circenses, lógico que eu não pude conhecer toda a cena aqui, mas pelo que vi há uma boa parte para desenvolver”, apontou.
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Conforme o ministrante, além de apoiar projetos como o de Fran e Moreno, o poder público deveria investir em espaços dedicados à prática e ao estudo do circo.
“Os espaços pensados para as modalidades de circo é importante que existam. Um espaço que você adapta, você restringe algumas possibilidades. Por exemplo, num teatro você não consegue instalar determinado equipamento de circo. Então, isso acaba limitando o artista, isso é um ponto. Outra coisa, é que se não há um espaço dedicado aos artistas de circo, não há uma troca entre esses artistas. Para de fato apoiar o artista de circo devem ser pensados espaços especializados, que tenham um fosso, colchão de aterrissagem, pontos mais altos para fazer ancoragens para possibilitar outras vivências, outras modalidades artísticas e oferecer segurança a esses profissionais”, definiu.
![Espaço da Cia Pisando Alto foi adaptado para receber a oficina de acrobacias de Rodrigo Mallet. Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/espaco-1024x682.jpg)
Moreno indicou que espaços da arte circenses são diversos: “O circo é amplo, ele não está só numa lona. É uma linguagem da Arte Cênica que está dialogando com teatro, música, dança… Quando ocupamos outros espaços, fortalecemos o fazer circense”. Entretanto, o produtor esclareceu que os espaços para o estudo da arte circense precisam de condições estruturais. “Porque aqui onde fizemos, por exemplo, a altura é limitada, né? A prefeitura tem espaços olímpicos que poderiam ser usados para isso, só que burocraticamente não conseguimos acessar estes locais… Se tivéssemos equipamentos disponíveis, claro que poderíamos chegar em resultados superiores”.
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Mallet conclui apontando que cumpriu seus objetivos da oficina nas expectativas, mas algumas coisas ficaram para uma próxima oportunidade. “A ideia do projeto era ampliar o repertório e desenvolver algumas coisas específicas. Considero que ampliamos bem o repertório, mas o desenvolvimento específico talvez tenha que ocorrer em um segundo momento”.
![Mestre Rodrigo Mallet, realiza portagem em oficina acobática na Capital sul-mato-grossense. Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/professor-3--1024x682.jpg)
"Na oficina aqui o que conseguimos foi dar um pontapé, onde o Mallet nos trouxe tudo com bastante didática e cabe a cada um de nós aqui insistirmos nos treinos para aprimorar", completou o produtor.
EXECUÇÃO 'ARROCHADA'
![Além da oficina, projeto inclui ações de circulação em MS. Foto: Antônio Lopes](https://cdn.teatrinetv.com.br/upload/dn_arquivo/2023/06/Imagem-do-WhatsApp-de-2023-06-12-as-11.16.53-1-1024x661.jpg)
Além da oficina, o projeto da Cia Pisando Alto inclui circulação híbrida, com apresentações presenciais e exibição de espetáculo no YouTube, tudo com audiodescrição e libras.
Ao todo, a Cia fará seis apresentações do espetáculo 'Gran Finale', sendo duas apresentações em Campo Grande, duas em Dourados e duas em Corumbá.
Em cada cidade, uma apresentação será aberta ao grande público e a outra apresentação será voltada para alunos de escola pública.
Nas escolas públicas a Cia também realizará uma oficina circense para os estudantes. E, em Dourados e Corumbá, a companhia fará intercâmbio com grupos locais de circo e teatro, para troca de conhecimentos e experiências.
Aquilo que chamaram de ‘circulação híbrida', envolve exibições, com datas e horários das apresentações que ainda serão divulgadas.
Para realizar tudo isso, Fran e Moreno tiveram o financiamento de apenas R$ 83.529 do Fundo de Investimentos Culturais de Mato Grosso do Sul (FIC/MS), num edital de 2021, que em razão dos atrasos de pagamento da Fundação de Cultura de MS (FCMS), somente pode ser executado agora.
Fran apontou o FIC como um mecanismo de promoção cultural que precisa ter o cronograma público respeitado, para não haver prejuízo a proposta original. "A gente pensa em profissionais e serviços de excelência para estar em nossos projetos, porém quando o intervalo de escrita e execução é longo a gente enfrenta uma readequação financeira de valores que subiram que pode acabar por inviabilizar ou prejudicar o andamento do projeto e isso interfere no nosso trabalho porque parece que sempre o valor que dispomos para o trabalho é inferior a um valor justo. Parece que sempre estamos dependendo de uma boa vontade dos profissionais trabalharem por um valor desatualizado", analisou.
Para a idealizadora do Circo.Lação, sempre que se atrasam os pagamentos dos contemplados no FIC há um efeito financeiro, que leva os artistas a situações constrangedoras. “Parece que estamos sempre com dinheiro em falta. Uma passagem que custava x, na época da inscrição, hoje já é outro valor. Alimentação, hospedagem… Essas coisas, com o atraso do FIC, são afetadas”, explicou.
Apesar dos desafios estruturais e financeiros, Fran disse que pretende apostar em novas edições de oficinas no Circo.Lação, visto o impacto positivo desta edição. “Temos a vontade de trazer outros profissionais ou mesmo com o Mallet, num formato de aprofundar, queremos possibilitar a formação dos profissionais”, finalizou.
O projeto Circo.Lação conta ainda com a Produção de Nilce Maciel, tem como Divulgador de Mídias, Febraro Oliveira, a Assessoria de Imprensa é de Isabela Ferreira (da Reconta Conteúdo) e a Arte Gráfica é de Maíra Espíndola.
A CIA
A Cia Pisando Alto foi criada em 2019 pelos artistas e produtores Fran e Moreno, que atuam juntos pesquisando circo desde 2012. Os dois cursaram Técnico em Artes Circenses na Escola Basileu França, em Goiânia-GO, onde também fizeram diversas capacitações na área. A companhia atua com circo e teatro em espaços abertos e não convencionais, utilizando algumas técnicas circenses: malabarismo, acrobacias, portagem, perna de pau, aéreo e equilibrismo.