O cinema brasileiro voltou a brilhar na Croisette. Neste sábado (24.mai.25), o ator Wagner Moura foi consagrado com o prêmio de Melhor Ator no 78º Festival de Cannes por sua atuação em O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho. Minutos depois, o próprio cineasta pernambucano foi laureado como Melhor Diretor, consolidando uma das participações mais marcantes do Brasil na história recente do festival.
O filme, que estreou com forte aclamação no Palais des Festivals, é ambientado no Recife do final dos anos 1970 e mergulha nos bastidores da ditadura militar brasileira. Moura interpreta Marcelo, um engenheiro especialista em tecnologia que retorna ao Brasil em busca de paz, mas encontra um país mergulhado na vigilância, na opressão e na paranoia política.
A performance do ator foi amplamente elogiada por críticos internacionais. “Um retrato contido e explosivo da angústia de um homem entre mundos. Moura entrega uma atuação de maturidade rara”, escreveu Peter Bradshaw no The Guardian. Já a revista Cahiers du Cinéma classificou o filme como “uma ode à resistência silenciosa”, comparando o personagem a “um antierói em terra arrasada”.
Sem poder comparecer à cerimônia de encerramento, Moura foi representado por Kleber Mendonça Filho, que também subiu ao palco para receber o prêmio de Melhor Direção. O cineasta agradeceu à equipe e destacou a importância da memória histórica no cinema: “Nosso passado recente ainda ecoa nas instituições, nos corpos e nos silêncios. Este filme é sobre isso: presença, ausência e resistência.”
O Agente Secreto foi saudado com 13 minutos de aplausos em sua estreia, uma das recepções mais calorosas desta edição do festival. Segundo o portal IndieWire, o longa é “uma mistura elegante de suspense político e cinema de resistência, com uma câmera que observa mais do que denuncia”.
O elenco reúne nomes consagrados do Brasil e do exterior, como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Hermila Guedes, Isabél Zuaa e o alemão Udo Kier, que já havia trabalhado com Kleber em Bacurau. O roteiro é assinado pelo próprio diretor e por Juliano Dornelles, parceiro em projetos anteriores.
A produção do longa é da CinemaScópio Filmes em coprodução com a Arte France Cinéma, com distribuição da Vitrine Filmes prevista para o segundo semestre no Brasil.
Além da conquista brasileira, o festival premiou o iraniano A Simple Accident, de Jafar Panahi, com a Palma de Ouro, e o espanhol Oliver Laxe recebeu o Prêmio do Júri por Sirât. O júri foi presidido pela cineasta Jane Campion, que classificou O Agente Secreto como “um filme corajoso, denso e de enorme relevância política”.
Kleber Mendonça Filho volta ao topo do cinema autoral mundial seis anos após o sucesso internacional de Bacurau e consolida sua posição como um dos principais nomes do cinema político contemporâneo. Veja a premiação de Kleber:
Festival de Cannes : le prix d'interprétation masculine est remis à Wagner Moura, vedette du film brésilien "L'Agent secret".
— franceinfo (@franceinfo) May 24, 2025
Le film obtient aussi le Prix de la mise en scène. pic.twitter.com/9Y3VXuIMWD