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patrimônio cultural

O que é patrimônio cultural?

Não é porque é velho, antigo ou do passado que ele tem valor cultural e histórico...

Por Redação • 19/07/2023 • 06:14

​História e Patrimônio são termos bastante doces, cabem em qualquer discurso de engrandecimento do passado. Mas podemos nos perguntar: qual a nossa noção sobre esses conceitos? O que difere patrimônio público de patrimônio histórico e cultural?

Algumas pinceladas sobre o campo de meu ofício: A história não é um dado fixo. Não é porque aconteceu no passado, é história, não é porque saiu na mídia que é história, não é porque muita gente participou que é história. Não é uma verdade do acontecimento. A história não é um caldeirão de fatos que foram em algum momento considerados importantes.

A história é libertadora e multifacetada. Através do conhecimento da história, podemos nos libertar de nossos traumas geracionais. Como um psicanalista que atende um paciente chamado sociedade, a história pode nos encaminhar ao “autoconhecimento” social. Para isso, ela deve ser discutida, publicada, lida, sem reservas e sem pudores. Nietzsche afirmou que o historiador escolhe o que esquecemos e não o que lembramos.

 O historiador deve respeitar duas regras básicas: não ser anacrônico, que significa não usar conceitos fora de suas temporalidades. Exemplo: falar de diagnóstico psicológico de Hitler quando ele mesmo nunca foi diagnosticado em sua vida. A segunda regra é não ser juiz do que pesquisa, não usar de seu lugar social para impor uma linha do que foi bom ou ruim, o historiador apenas estuda o morto e não pode julgá-lo “post mortem”. Exemplo: escrever que a colonização realizada por ingleses foi “melhor” que a de portugueses e espanhóis.

E passamos ao nosso outro termo palatável, o patrimônio. Patrimônio público é um bem material ou imaterial que pertence a toda sociedade que tem relação de alguma forma com esse bem. Então não é porque é público que não tem dono, na verdade, todo mundo é dono. Por essa falsa noção, de que patrimônio público é de ninguém, é tão difícil criar consciência de preservação. Se fosse considerado o bem como propriedade de cada um e ao mesmo tempo de todos, não haveria tanta destruição de patrimônio, “quando a gente gosta é claro que a gente cuida”, já cantou Caetano a letra de Peninha.

Quando pensamos em patrimônio histórico e cultural, mais significado ele carrega, pois agrega valor do que histórico foi e culturalmente nos permeia. O patrimônio cultural vive entre a atividade atual e sua permanência no tempo. Não é porque é velho, antigo ou do passado que ele tem valor cultural e histórico. Mas se o patrimônio material ou imaterial (uma maneira de fazer um prato, ou dançar e cantar um estilo de ritmo, ou um jeito de realizar uma atividade em comum), continua contando um percurso, um processo do ser humano em sociedade numa temporalidade, ele é um patrimônio histórico e cultural.

Não é simples e fácil destrinchar esses conceitos, mas podemos abrir o caminho para a compreensão de ideias tão importantes para a história pessoal de cada um. Afinal estamos sempre nos relacionando com nossos patrimônios e deles traduzindo significados para nossa existência.

Ao tempo pertencemos e somos pertencidos. A história é nossa relação com um tempo e espaço, os patrimônios históricos e culturais são as marcas dessa relação, que só dura se houver reciprocidade. Recorrendo mais uma vez à poesia: “Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, Vinícius de Moraes deixou a lição que cabe bem à nossa relação com história e patrimônios.

Autora: Lenita M. Rodrigues Calado - Doutora em História.

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Tags: CULTURA, destaque, destaque_principal, Mato Grosso do Sul, Patrimônio Cultural, Patrimônio Histórico

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