Adriane Lopes é ironizada por DJ em Campo Grande (MS). Fotos: Wes Diego
O DJ e produtor cultural Wes Diego, figura atuante na cena LGBTQIA+ e noturna de Campo Grande há nove anos, viralizou nas redes sociais após publicar, nesta 2ª feira (8.dez.25), um vídeo em que aborda de forma irônica a prefeita Adriane Lopes (PP) durante uma ação na região central da cidade.
O registro, feito de improviso, rapidamente se espalhou pelo Instagram e alimentou debates sobre políticas culturais, vida noturna e conservação urbana na capital sul-mato-grossense. No vídeo, Wes abraça a prefeita e diz: "Adriane. Olá, tudo bem? Parabéns pelo desserviço que você faz pela cidade", em seguida se afasta. Assista:
Antes disso, ele explicou em áudio anexo ao vídeo, que encontrou a prefeita no domingo (7.dez.25), na esquina da sua casa no Centro.
Wes relatou à reportagem do TeatrineTV, que ele retornava a pé para casa e ao passar pela esquina da Rua 13 de Maio com Barão do Rio Branco, ele notou uma movimentação incomum: “Tinha gente da Energisa, policiais da GCM, fotógrafos… Quando percebi que a Adriane estava lá, pensei: vou gravar um stories", introduziu.
O DJ contou que, ainda se adaptando ao celular novo, aproximou-se atravessando policiais e membros da equipe da prefeitura, surpreendendo-se por ninguém barrá-lo. "Cheguei do lado dela e pedi pra tirar uma foto. Ela deixou. Aí gravei o vídeo falando aquilo. Não pensei muito", revelou.
Wes afirmou ter ouvido a prefeita mencionar “oposição” depois que ele se afastou. Logo após chegar em casa, postou o registro apenas para seus amigos — mas em poucas horas o vídeo já circulava em páginas locais e acumulava milhares de visualizações. “Foi muito rápido. Ganhei muitos seguidores do nada. Achei meio bizarro".
CULTURA, NOITE E ESPAÇO PÚBLICO
O vídeo viral, segundo ele, é resultado da “birra” que desenvolveu com a gestão municipal por situações que testemunhou como profissional da noite. Wes reforçou que faz parte da vida cultural da Rua 14 de Julho, área que afirma ter sido alvo de fiscalização e repressão desproporcionais sob a gestão adrianista.
“A prefeita criminaliza muito a cena noturna. A gente vivenciou perseguição policial. Teve até um episódio no Copo Bar em que jogaram spray de pimenta. Eu fiz uma postagem que viralizou no Twitter", lembrou.
Além da política para a noite, ele denunciou a falta de atenção a espaços culturais. Morador próximo à Praça dos Imigrantes, Wes lamentou o abandono prolongado do local:
“Era um polo cultural. Tinha feiras, saraus. Depois [da gestão Adriane Lopes] ficou destruída. Começou reforma várias vezes, nunca terminava. Me falaram que, no orçamento da prefeitura, ela já constava como reformada… mas não foi. Para onde foi esse dinheiro?”, questionou.
Ele afirmou ainda ter ouvido de trabalhadores da cultura que a prefeitura teria deixado de aceitar verbas federais ou perdido prazos para recursos destinados ao setor — informações que ele relata como comentários de colegas durante reuniões. A afirmação se refere ao fracasso de Adriane Lopes na captação das verbas para esse ano, da Política Nacional Aldir Blanc, que mostramos aqui. Além disso, ela não investe os recursos reservados para cultura desde 2022, quando pegou a gestão de Marquinhos Trad e passou a aplicar diversos calotes nos editais culturais — meio legal de distribuição de recursos.
CIDADE DETERIORADA
Embora viva no centro, Wes comentou que começou a notar problemas estruturais que afetam toda a cidade, especialmente o asfalto: “Motoristas de Uber, amigos da periferia, todo mundo reclama. É algo que passou a me chamar atenção", pontuou.
Para ele, há um sentimento geral de sucateamento:
"Sou nascido e criado aqui. Campo Grande sempre teve problemas, mas agora parece mais grave. Não é sobre culpar a pessoa, mas a gestão. A sensação é de que nosso esforço e nosso dinheiro estão sendo jogados no lixo", protestou.
ATO ESPONTÂNEO VIROU SÍMBOLO
A ação improvisada diante de Adriane Lopes — que, segundo o DJ, não foi barrada por nenhum agente — tornou-se um pequeno gesto político. “Foi oportunidade. Eu abracei. Sou um ser político, formado em Relações Internacionais, trabalho com cultura. Isso tudo me atravessa", afirmou,
O vídeo, simples e espontâneo, encontrou eco em um grande público campo-grandense insatisfeito com a administração municipal — e transformou, mesmo sem intenção, o DJ em porta-voz de um sentimento compartilhado.
