
Apenas 68 dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul foram habilitados pelo Ministério da Cultura (MinC) para receber os recursos do Ciclo 2 da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) em 2025.
Campo Grande, capital do Estado, está entre os 11 municípios inabilitados por não terem aplicado pelo menos 60% dos valores recebidos no primeiro ciclo, em 2024. Pior: é a única capital do Centro-Oeste a perder o direito aos recursos federais neste ano, o que agrava ainda mais a situação de descaso com a política cultural local. A íntegra.
A meta de execução mínima foi estabelecida como critério obrigatório para continuidade do repasse federal no ano corrente. Com isso, os municípios inabilitados só poderão voltar a receber os recursos da PNAB em 2026.
Segundo o MinC, a não aplicação dos recursos compromete diretamente a política pública cultural nos territórios.
Entre os municípios impedidos de receber o repasse neste ano, está Campo Grande, cuja gestão da prefeita Adriane Lopes (PP) vem sendo duramente criticada por trabalhadores da cultura. Para muitos, Adriane é considerada a pior gestora da história da cultura campo-grandense, tendo, segundo denúncias, aplicado calotes no orçamento anual da Cultura desde 2022, além de falhar na execução da PNAB.
A exclusão da capital do repasse federal ainda em 2025 é considerada um retrocesso grave pelo setor artístico local, que enfrenta dificuldades de sobrevivência, baixa execução orçamentária e falta de diálogo com a gestão municipal.
Localizada no coração do Estado, a capital, em vez de ser exemplo de boa gestão, acabou se transformando em uma caricatura do que há de pior na administração de recursos culturais.
INEFICIÊNCIA CRÔNICA

Em 2024, a Prefeitura de Campo Grande solicitou e recebeu pouco mais de R$ 5,7 milhões por meio da Política Nacional Aldir Blanc, do Ministério da Cultura (MinC), governo do presidente Lula (PT).
Parte desse valor deveria ser destinada à restauração de espaços culturais, como o Teatro do Paço e a Praça dos Imigrantes — ambos permanecem abandonados pela gestão da prefeita Adriane Lopes.
Desde o repasse, os recursos geraram rendimento financeiro de R$ 808.439,47 até 7 de julho de 2025.
No entanto, a Prefeitura ainda não informou de forma clara como pretende usar esse montante. A reportagem questionou o chefe da Fundac, Valdir Gomes, sobre o assunto e aguarda posicionamento.
Segundo dados do MinC, até essa data foram repassados apenas R$ 100.486,57 aos trabalhadores da cultura da capital, o que representa uma execução de apenas 1,75%.
Em 10 de julho, após a data limite, a Prefeitura realizou várias transferências.
Segundo extrato público disponível no Painel da PNAB, nesse dia foram movimentados R$ 1.419.267,74 — valor referente à soma das transferências feitas a pessoas físicas e jurídicas identificadas como recebedoras de recursos culturais.
Após mais de um ano de inércia, a gestão cultural de Campo Grande passou a fazer repasses a toque de caixa — mas o estrago já estava feito.
Dos mais de R$ 5,7 milhões recebidos em 2024, a Prefeitura só conseguiu transferir, com atraso, valores entre R$ 40 mil e R$ 80 mil para poucos contemplados.
Os beneficiários, embora legítimos, representam uma minoria diante do potencial alcance que o recurso deveria ter tido.
Ainda assim, o plano de trabalho atual apresentado pela Fundação Municipal de Cultura (Fundac) prevê aplicação de R$ 23,2 milhões — valor cerca de 300% maior que o de 2024 e que sequer foi gerenciado com eficiência.
Com Adriane Lopes, a capital sul-mato-grossense amarga a perda de uma das maiores fatias de investimento cultural do país em 2025.
Em contraste com a Capital, cidades de menor porte de MS deram, em sua maioria, um verdadeiro exemplo na aplicação e distribuição dos recursos públicos, tendo aplicado até mais de 100% dos recursos, como mostramos aqui.
Municípios habilitados (receberão recursos da PNAB em 2025):
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Alcinópolis
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Amambai
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Anastácio
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Anaurilândia
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Angélica
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Antônio João
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Aparecida do Taboado
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Aquidauana
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Aral Moreira
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Bandeirantes
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Bataguassu
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Batayporã
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Bela Vista
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Bodoquena
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Bonito
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Brasilândia
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Caarapó
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Camapuã
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Cassilândia
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Chapadão do Sul
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Corguinho
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Coronel Sapucaia
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Corumbá
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Costa Rica
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Coxim
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Deodápolis
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Dois Irmãos do Buriti
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Douradina
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Dourados
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Eldorado
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Fátima do Sul
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Figueirão
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Glória de Dourados
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Guia Lopes da Laguna
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Iguatemi
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Inocência
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Itaporã
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Itaquiraí
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Ivinhema
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Japorã
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Jaraguari
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Jardim
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Juti
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Laguna Carapã
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Maracaju
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Miranda
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Mundo Novo
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Naviraí
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Nova Andradina
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Novo Horizonte do Sul
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Paranaíba
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Pedro Gomes
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Ponta Porã
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Porto Murtinho
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Ribas do Rio Pardo
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Rio Brilhante
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Rio Verde de Mato Grosso
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Rochedo
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Santa Rita do Pardo
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São Gabriel do Oeste
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Selvíria
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Sete Quedas
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Sidrolândia
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Sonora
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Tacuru
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Taquarussu
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Três Lagoas
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Vicentina
Municípios inabilitados (não receberão recursos da PNAB em 2025):
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Água Clara - prefeita Gerolina, do PSDB;
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Campo Grande - prefeita Adriane Lopes, do PP;
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Caracol - prefeito Neco Pagliosa, do PSDB;
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Jateí - prefeita Cileide Cabral, do PSDB;
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Ladário - prefeito Munir, do PSDB;
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Nioaque - prefeito André, do PP;
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Nova Alvorada do Sul - prefeito Paleari, do PP;
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Paraíso das Águas - prefeito Ivan Xixi, do PSDB;
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Paranhos - prefeito Hélio Acosta, do PSDB;
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Rio Negro - prefeito Henrique Ezoe, do PSDB;
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Terenos - prefeito Henrique, do PSDB.
O QUE É PNAB?
A Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), criada pela Lei 14.399/2022, prevê repasses anuais de recursos da União a estados e municípios para ações de incentivo, fomento e apoio à cultura. A execução local é condicionada a metas de aplicação, prestação de contas e transparência. Municípios que não conseguem executar pelo menos 60% dos valores recebidos ficam inabilitados no ciclo seguinte.