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Filosofia do 'cuidado' une Cias de MS e SP para intercâmbio e formação de Circo

Projetos quase simultâneos apoiados pelo FMIC criam via de mão dupla

Por ALY FREITAS | TERO QUEIROZ • 16/10/2025 • 20:15
Imagem principal Alunos, em Campo Grande (MS), recebem orientações do Duo Mano a Mana, na Cia Pisando Alto. Foto: Antonio Lopes

Em um movimento que encurta distâncias e fortalece alicerces, a cena circense de Mato Grosso do Sul vive um momento de efervescência.

Dois projetos, independentes em sua concepção, mas entrelaçados em seus objetivos e protagonistas, criaram um potente eixo de intercâmbio artístico com São Paulo.

De um lado, o "Giro Apoema", idealizado pela artista Nathália Maluf da Cia Apoema, levou 5 trabalhadores circenses sul-mato-grossenses para uma residência artística na capital paulista.

Foto: Reprodução/ Cia ApoemaNathália Maluf é portada por Vinícius Mena sendo orientados por Marília e Dyego, do Mano a Mana. Foto: Arquivo 

No caminho de volta, o projeto 'Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva', concebido por Fran Corona e Moreno Mourão, da Cia Pisando Alto, trouxe os mestres paulistanos para uma formação continuada e aprofundada na Capital sul-mato-grossense.

Foto: Antonio LopesNa Cia Pisando Alto, alunos recebem técnicas de portagem do Mano a Mana.  Foto: Antonio Lopes

O elo que une essas duas pontas é o Duo Mano a Mana, formado por Dyego Yamaguishi e Marília Mattos, referências nacionais na técnica de acrobacia de mão a mão.

Foto: Antonio LopesDyego Yamaguishi (sentado) e Marília Mattos. Foto: Antônio Lopes

Primeiro, eles foram os anfitriões em São Paulo para Nathália Maluf, Fran Corona, Moreno Mourão, Tero Queiroz e Vinícius Mena. Depois, viajaram 984,2 km para emprestar suas técnicas na capital sul-mato-grossense, no primeiro de uma série de módulos que prometem transformar o panorama técnico dos artistas locais.

Foto: Reprodução/ Cia ApoemaCinco alunos em São Paulo, por meio do projeto Giro Apoema, da Cia Apoema, integraram uma vivência com o Mano a Mana. Foto: Arquivo

Ambos os projetos contam com financiamento do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC) de 2024, o único e mais importante mecanismo de incentivo público à cultura executado pela prefeitura de Campo Grande.

Os projetos evidenciam não apenas a sede por aprimoramento, mas a importância vital do fomento público para a descentralização do conhecimento e o desenvolvimento da cultura.

BUSCA POR TÉCNICAS ESPECIALIZADAS

Nathália Maluf realizando a prática de mão a mão com Dyego Yamaguishi. Foto: ArquivoNathália Maluf realizando a prática de mão a mão com Dyego Yamaguishi. Foto: Arquivo

A iniciativa de cruzar as fronteiras do estado partiu de uma percepção clara sobre as necessidades da comunidade circense local.

Nathália explicou que a ideia da residência em São Paulo mirou preencher uma lacuna. "A proposta central do nosso intercâmbio foi compensar uma carência específica na área de formação circense aqui no Mato Grosso do Sul, uma vez que estamos distantes desses grandes centros de formação, né?", contextualizou.

Ela acentuou que Mato Grosso do Sul não carece de qualidade ou potencial, mas sim, faltam formadores especializados e espaços de formação, em especial na técnica que a interessa, que é o mão a mão. “A motivação do intercâmbio é clara também, dar um salto de qualidade nas nossas técnicas, potencializando o que já fazemos. Vimos a viabilização desta residência em São Paulo com o grupo Mano a Mana como o caminho para isso”.

Foto: Reprodução/ Cia ApoemaO Giro Apoema recebeu a formação do Mano a Mana no Centro Cultural Santo Amaro, localizado na zona sul de São Paulo. Foto: Arquivo

A escolha pelo Mano a Mana não foi aleatória. Além da admiração técnica, havia uma sintonia filosófica. "A residência com eles nos permitiu não só aprender a técnica em si, mas também começar a acreditar cada vez mais no nosso potencial coletivo. Marília e Dyego são dois artistas incríveis que nos inspiraram muito, pois prezam por um ambiente onde a acrobacia é um lugar de cuidado, escuta, generosidade, respeito e comunicação aberta e isso fez toda a diferença”, declarou Nathália.

Ela revelou que além da qualidade técnica, o Mano a Mana se dedica muito à pesquisa também, tanto que eles escreveram dois livros de circo, um de mão a mão e um de barra russa.

Ainda de acordo com Nathália, outro ponto que fez com que a escolha pelo duo paulista fosse a primeira opção, foram debates importantes que eles trazem para o circo. “Essa escolha pelos dois também foi crucial pela visão social e de gênero que eles mostraram ter dentro da técnica do mão a mão. Na fala deles existe um debate muito importante sobre a desmistificação dos papéis de Portô e Volante, que muitas vezes são ligados a estereótipos de tamanho ou gênero. E a acrobacia é muito mais sobre cuidado, né, segurança e escuta mútua do que qualquer outra coisa. Uma das coisas que mais valorizo também é essa quebra na ideia machista com essa cobrança excessiva que muitas vezes recai sobre a Volante e que, pessoalmente, já passei diversas vezes também”.

Foto: Reprodução/ Cia ApoemaMoreno Mourão realizando a prática de pé mão com Fran Corona. Ao fundo, Tero Queiroz realiza a mesma prática com Nathália Maluf, todos orientados pelo Mano a Mana. Foto: Arquivo 

Nesse sentido, ela avaliou que os ganhos foram diversos no intercâmbio. "Eles nos proporcionaram, além de técnicas, a forma correta de fazer a segurança dos movimentos também, de um jeito que realmente permite a autonomia do grupo, para que possamos continuar evoluindo sozinhos aqui em MS”.

A artista apontou também a importância da imersão cultural do projeto. "A ida até São Paulo permitiu que a gente acessasse espaços, contemplasse o trabalho de outros artistas e trouxesse novas referências para injetar nas nossas criações e no espetáculo que vai entrar em circulação como uma segunda ação do projeto. Enfim, tivemos esse aprimoramento técnico junto a uma filosofia de trabalho que valoriza o ser humano e a segurança”.

CONTINUIDADE EM CASA

Duo Mano a Mana trouxe técnicas detalhadas de portagem mão a mão e pé mão para a Capital sul-mato-grossense por meio do projeto 'Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva', da Cia Pisando Alto. Foto: Antonio LopesDuo Mano a Mana trouxe técnicas detalhadas de portagem mão a mão e pé mão para a Capital sul-mato-grossense por meio do projeto 'Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva', da Cia Pisando Alto. Foto: Antonio Lopes

Se ir foi fundamental, trazer o conhecimento para ser compartilhado em casa era o passo seguinte, mas foi por acaso. Os projetos foram inscritos independentemente, mas acabaram se encontrando na execução.

Fran Corona, da Cia Pisando Alto, estruturou um projeto ambicioso para solidificar e ampliar conhecimentos ao longo de 4 meses, e os primeiros formadores foram Dyego e Marília da Cia Mano a Mana, que chegaram em MS em 6 de outubro, e ministraram uma formação na sede da Cia Pisando Alto até 12 de outubro.

Foto: Antonio LopesAteliê Cênico, da Cia Pisando Alto, foi espaço que recebeu a vivência de circo ministrada pelo Mano a Mana. Foto: Antonio Lopes 

De acordo com Fran, a estrutura pretende ser intensa e progressiva. "Em cada módulo, a gente vai desenvolver e aprimorar alguma técnica específica de acrobacia coletiva e portagem. Cada módulo começa com uma formação intensiva de 7 dias direto, com duração de 4h30, 5 horas por dia. E aí, nos módulos posteriores, a gente se encontra para treinar durante a semana. Aí vem o próximo módulo intensivo… A gente se encontra 7 dias seguidos, depois fica 3 semanas se encontrando durante a semana de forma não intensiva”, detalhou Fran.

Depois de Dyego e Marília, que deram as técnicas de mão a mão, pé mão, o segundo módulo do projeto da Cia Pisando Alto receberá o Circo Le Chapeau de Dourados. “Eles vão trazer a técnica de estafa. O terceiro módulo é a Cia Bravata de São Paulo, que vai trabalhar com canastilla e também vão trabalhar as outras técnicas que já foram trabalhadas. Mas aí sempre a gente vai inserindo uma nova técnica. E o último módulo é a Troupe Guezá, que é uma trupe de mulheres que vai trabalhar com figuras coletivas”, anunciou.

Ainda conforme Fran Corona, ao finalizar a capacitação, será realizada uma oficina aberta, gratuita, para as demais pessoas que querem conhecer e iniciar nas práticas circenses. “Os alunos que vão oferecer essa aula e também vamos apresentar um número do que a gente estudou durante o curso”, adiantou.

Sobre o intercâmbio com a Cia Apoema e a continuidade em casa, Fran disse que notou o avanço ao receber orientação de profissionais que são capacitados, que têm grande qualidade no trabalho. “Às vezes a gente treina sozinho e demora, sei lá, meses para conseguir fazer alguma coisa. Ali com a pessoa que entende da técnica, sabe te falar o que você precisa fazer, a gente acaba desenvolvendo muito mais rápido”, avaliou.

Fran Corona, Isadora Nagamini, Natália Seron e Nathália Maluf realizando a prática de portagem pé mão com Rodrigo Nantes e Vinícius Mena. Realizando a proteção estão Marília Mattos e Moreno Mourão. Observa a prática, Dyego Yamaguishi. Foto: Antonio Lopes

No que tange à formação da Cia Pisando Alto, ela celebrou o alcance. "Além da gente aqui de Campo Grande, também veio gente de outra cidade para participar da formação e, para a gente, isso é uma alegria”.

DIDÁTICA DE CONFORTO E SEGURANÇA

Isadora Nagamine sendo elevada à segunda altura por uma técnica chamada pelo Duo Mano a Mana de Coxinha. Foto: Antonio LopesIsadora Nagamine sendo lançada acima por meio de uma técnica chamada pelo Duo Mano a Mana de Coxinha. Foto: Antonio Lopes

Fran está se referindo especificamente à aluna Isadora Nagamine, de 28 anos. Ela é professora de teatro e artes visuais em Ribas do Rio Pardo, enfrentou a estrada diariamente para não perder a oportunidade. "Eu tô indo e voltando na BR aí para poder fazer o curso todos os dias. E vale muito a pena”, disse Isadora.

O trajeto feito por Isadora é de cerca de 119 quilômetros, que ela disse ter feito todos os dias com alegria. "Apesar do cansaço, quando a gente chega, o Dyego e a Marília dão um gás pra gente que a gente até esquece que estava cansado. [...] Eles fazem as coisas serem muito simples. A gente literalmente fica nessa imersão com eles, porque a didática deles faz a gente levar para outros lugares, para o lugar do conforto, da segurança”, disse a jovem educadora e artista.

A experiência com uma técnica, para Isadora, foi reveladora. "É a minha primeira experiência no mão a mão. Uma das coisas que é muito legal da portagem de modo geral, é como que a gente vê o exercício e fazer o exercício são duas coisas totalmente diferentes. Principalmente com o Dyego e com a Marília, eles transformam esse fazer num fazer muito mais orgânico”, considerou.

Segundo Isadora, apesar do temor inicial em cada um dos movimentos, a técnica do Mano a Mana facilitou tudo. “A gente olha o exercício e fala: 'Não vou dar conta de fazer isso'. Aí eles passam um exercício simples que a gente fala: 'Nossa, mas por que que tá fazendo isso aqui?'. De repente, dali do exercício a gente já tá fazendo outras coisas. [...] Eles passam tanta segurança que você faz o exercício e fala: 'Nossa, fiz isso aqui minha vida inteira’", descontraiu.

Isadora recebendo orientações de Marília Mattos, do Duo Mano a Mana. Foto: Antonio LopesIsadora recebendo orientações de Marília Mattos, do Duo Mano a Mana. Foto: Antonio Lopes

Isadora, que leciona para adolescentes, vê um potencial transformador nessas ações. "Eu acredito que o nosso estado é um estado ainda muito novo, principalmente no campo da arte. O teatro de rua, ele ainda não é muito conhecido, o circo, ele não é muito valorizado e ter esses profissionais vindo para o nosso estado valoriza quem já tá nessa luta”, opinou.

Ela completou destacando a importância da iniciativa da Cia Pisando Alto. “Quanto mais gente descobre que existe, porque muita gente nem sabe que existe, mais gente pega o gosto de ver, mais artistas têm a paixão, o brilho no olho de falar: 'Não, vou fazer também'. [...] A arte traz essa perspectiva de volta e tudo que é novo interessa para o adolescente. Quando a gente traz o mão a mão, que é diferente, que é novo... isso é importante, trazer mais coisas que chamem os jovens, que brilhem o olhar, que seja diferente, porque nosso estado precisa dessas mudanças, dessas coisas novas para a arte fluir mais”.

Um dos desejos compartilhados por Fran é que sejam possíveis as colheitas dos frutos do projeto. “A gente conseguir criar um núcleo que pesquise, que pratique a acrobacia em grupo aqui no nosso estado também, que é uma forma da gente conseguir se desenvolver e não precisar sempre ficar viajando. E o trabalho do Mano a Mana, pra gente, é riquíssimo, é muito bom mesmo, é uma referência, sempre foi”, disse.

TROCA, CONTINUIDADE E DISPONIBILIDADE

Dyego orientando os integrantes da Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva, oferecida pela Cia Pisando Alto. Foto: Antonio LopesDyego e Marília pensando a estratégia de como passar técnicas aos integrantes da Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva, oferecida pela Cia Pisando Alto. Foto: Antonio Lopes

Para Dyego Yamaguishi e Marília Mattos, a experiência de lecionar para o grupo sul-mato-grossense em dois momentos distintos foi um processo novo e potente.

A conexão, segundo Dyego, começou de forma digital e se consolidou através dos editais. "Acho que a primeira vez que quem falou com a gente foi a Nathália mesmo, acho que ano passado ou até um outro ano, de um edital aqui da cidade. Só que aí não rolou. Ela mandou mensagem de novo ano passado e também a Fran mandou uma mensagem também. A da Nathália era para ir para São Paulo e a da Fran para vir para cá. A gente não conhecia nenhum deles”, recordou Dyego.

A imersão em São Paulo foi o primeiro contato. "E tem essa imersão lá com um grupo menor, porque eram só cinco pessoas. E quando vem para cá, a gente tem um grupo maior com um grupo novo de artistas também daqui," explicou o artista especialista em portagem e técnica mão a mão.

Na Cia Pisando Alto, Dyego orienta integrantes da Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva, oferecida pela Cia Pisando Alto. Foto: Antonio Lopes

Para Dyego, a troca com diferentes regiões é fundamental para o crescimento artístico do próprio Mano a Mana. "A gente fez isso no passado, na nossa viagem com o lançamento do livro, que a gente conseguiu pela Funarte. [...] A única região que a gente não foi, foi o Sul. A gente foi para o Norte, para o Centro-Oeste, para o Sudeste e para o Nordeste”, lembrou.

Dyego ressaltou que não costuma usar os termos: iniciante, avançado… mas acredita que as formações foram oferecidas para pessoas que já trabalham com o circo. “Porque já tinham companhia estabelecida, espetáculos e tudo mais. [...] A gente já viu que tinham uns trajetos”.

Marília Mattos detalhou o desafio pedagógico de trabalhar com o mesmo grupo em dois contextos. Visto que o grupo que foi para São Paulo estava na oficina em Campo Grande, mas havia pessoas também em Campo Grande que não foram para São Paulo. "Foi rico do ponto de vista de ampliar o pensamento sobre a própria técnica para conseguir tanto receber as pessoas que não tiveram essa iniciação, quanto para as pessoas que tiveram, não ficar uma repetição. A gente conseguiu criar novos caminhos para apresentar o trabalho. [...] Como era uma formação completa, essa proposta foi muito interessante de como dar uma continuidade ao mesmo tempo que a gente está apresentando do zero para uma galera”, ponderou.

Dyego e Marília realizam uma demonstração de movimento, antes de passar à técnica aos integrantes da Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva. Foto: Antonio Lopes

Assim, Marília distinguiu os focos dos dois projetos. "A proposta lá [em São Paulo] era um laboratório cênico, porém com foco na formação técnica de mão a mão. [...] A gente tinha sim esse caráter cênico, mas como era também um primeiro momento que a gente estava conhecendo o grupo, também foi um momento bem de introduzir a forma que a gente trabalha, a metodologia, e aí construir junto com isso essa parte artística, que já é um pouco o caminho que a gente tenta fazer sempre que tem tempo, não ficar só na técnica para não virar uma aula de ginástica”, argumentou.

Para Marília, os intercâmbios cruzados fluíram bem, devido à soma de uma proposta didática e de uma recepção generosa dos artistas locais. “É muito comum o professor, às vezes na exaustão, começar a culpar a turma. 'Ah, a turma é difícil'. E tem turmas que são difíceis mesmo, mas às vezes é só uma aula que foi meio mal diagramada. [...] Foi um grupo muito generoso, porque a gente falou: 'Ó, estamos experimentando coisas aqui', e a galera é muito aberta, muito disponível. Isso também faz a coisa funcionar”, comentou.

A vinda para Campo Grande não se resumiu apenas à oficina, o Duo Mano a Mana também apresentará seu espetáculo “Atravessando Lugares” às 16h do sábado (18.out.25), no Sesc Teatro Prosa – os ingressos devem ser reservados no Sympla, aqui.

EXPERIÊNCIAS CRUZADAS

Nathália Maluf e Vinícius Mena recebem orientação sobre portagem do Mano a Mana. Foto: Antonio Lopes

A realização de ambos os projetos só foi possível através de editais, uma realidade que une todos os envolvidos na defesa contundente do investimento público na cultura. "Com toda certeza, acho não só importante, como necessário, ações como essas existirem com frequência e de forma continuada, até porque é totalmente inacessível pro artista independente estar sempre se deslocando atrás de formação em outros estados", cravou Nathália Maluf.

Como forma de sugestão positiva, a líder da Cia Apoema disse que, notando esse impacto, os editais e demais políticas públicas deveriam ampliar o recurso e vagas aos circenses. “Para que a gente possa investir em infraestrutura local. É necessário investir também na criação e manutenção dos espaços daqui, adequar para treinamento e pesquisa, e permitir também a contratação de formadores especializados para estarem oferecendo essa formação para nós de tempos em tempos”, orientou.

Fran Corona sendo portada a Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva. Foto: Antonio LopesFran Corona sendo portada a Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva. Foto: Antonio Lopes

Fran Corona ecoou a percepção. "A política pública é fundamental nesse sentido de ampliar, democratizar o acesso. Então, quanto mais pessoas têm acesso a uma técnica, a um saber, essas pessoas conseguem disseminar, espalhar essa técnica também, conseguem trabalhar, ter espetáculos com uma qualidade técnica melhor. A partir de uma oficina, de uma capacitação, são vários trabalhos que melhoram, tanto na questão pedagógica quanto na artística”.

Com a experiência de quem já circulou o Brasil com projetos fomentados, Dyego Yamaguishi ofereceu uma análise profunda sobre o papel dos editais. "Eu acho que tem que se encontrar um caminho que não seja também só os editais, que tenham mais política de permanência. Porque a gente tem políticas muito focadas em editais, o que é incrível, é importante que eles existam, mas também tem que ter mais políticas que tenham continuidade, não sendo ações pontuais”, opinou.

Ele criticou, inclusive, a proporção do investimento em estados como São Paulo. "O ProAC, que é o maior programa de ação cultural do país, proporcionalmente, nossa, falta muito dinheiro. O dinheiro que tem atende, sei lá, 20 companhias. É um número que, cada edital, acaba atingindo pouquíssimas pessoas. E o investimento da própria prefeitura ou do próprio estado não aumentou nos últimos anos, por exemplo. Aumentou a partir do investimento do Governo Federal”.

Alunos e o duo Mano a Mana após uma das aulas de Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva. Foto: Antonio LopesAlunos e o duo Mano a Mana após uma das aulas de Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva. Foto: Antonio Lopes

Dyego defendeu que o fomento garanta liberdade artística. "A existência deles [editais] proporciona tanto essa troca, que para a gente é incrível. [...] Tu não fica preso numa lógica de mercado. Se a gente vai querendo procurar um lugar de venda, a gente às vezes não produz uma coisa que tenha nosso interesse", avaliou. "Pensa no lugar privado, quem que financiaria um livro de uma técnica específica dentro do circo? [...] O financiamento [público] não tem um retorno para uma pessoa ou uma empresa, é para o povo. Então, isso é muito importante”.

Marília Mattos ensinando práticas circenses na Capital sul-mato-grossense. Foto: Antonio LopesMarília Mattos ensinando práticas circenses na Capital sul-mato-grossense durante aulas de Capacitação em Portagem e Acrobacia Coletiva. Foto: Antonio Lopes

Marília Mattos, por sua vez, reforçou a importância da troca que os editais proporcionam. "O relato que a gente recebeu dos artistas aqui de Campo Grande foi esse de, 'pô, isso é muito importante, poder sair da cidade, poder trazer pessoas, porque isso enriquece'. [...] Quando a gente tem políticas públicas que dialogam com os artistas, isso cria um exponencial de possibilidades, porque a galera sabe o que precisa", argumentou. "As políticas públicas, elas vêm para criar um azeite entre essas questões todas e trazendo — a gente sabe — que a cultura promove muito giro financeiro, então é uma coisa que aquece a economia, que amplia muito esse dinheiro que é colocado ali. Ele é fundamental para os artistas e ele é um retorno comprovado para a sociedade, assim”, finalizou.


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Tags: Capacitação em Portagem e Acrobacia, Cia Apoema, Cia Pisando Alto, Dyego Yamaguishi, Fran Corona, Giro Apoema, Mano a Mana, Marília Mattos, Moreno Mourão, Nathália Maluf

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