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HANÀ'ITI KIPAÊ

Grupo de dança Terena funda associação com apoio do Comitê de Cultura de MS

Com dois anos de atuação, coletivo que dançou para ministros e para o presidente da república, conquista autonomia

Por TERO QUEIROZ • 02/06/2025 • 09:43
Imagem principal Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul presta assessoria técnica para fundação de Associação de Dança Terena em Aquidauana (MS). Foto: Tero Queiroz

Entre os dias 25 e 26 de maio, a Terra Indígena Taunay Ipegue, em Aquidauana, recebeu assessoramento técnico do Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul (CCMS) para a fundação jurídica da Associação 'Haná’iti Kipâe', grupo de dança indígena que, há dois anos, percorre aldeias e cidades do Brasil levando apresentações artísticas como estratégia de resistência e manutenção das tradições culturais do povo Terena.

Com apoio da equipe do CCMS, o grupo — que já dançou com a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, na frente do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, entre outras autoridades — agora conseguiu sair da informalidade. “Teremos autonomia jurídica para receber os recursos financeiros que vão auxiliar na manutenção da ‘Dança Terena’, que é uma tradição que muitos indígenas estão perdendo”, introduziu o cacique e um dos fundadores do grupo, Devanilson Paz.

Segundo Devanilson, com CNPJ próprio, o grupo terá meios para financiamentos, editais públicos e outras formas de apoio institucional.

‘GRANDE EMA’

Equipe do CCMS e os membros fundadores da Associação de Dança Haná'iti Kipâe'.  Foto: Tero Queiroz)Equipe do CCMS e os membros fundadores da Associação de Dança Haná’iti Kipâe’.  Foto: Tero Queiroz)

O nome Haná’iti Kipâe’ significa “Grande Ema” na língua Terena — um símbolo de resistência do coletivo artístico-cultural.

Para os integrantes do grupo, a formalização da associação é mais que um avanço burocrático: é uma conquista histórica que fortalece a identidade cultural e social da comunidade. “O conceito do nosso coletivo agora é trazer mais ação social para a comunidade do Ipegue e também para todo o território. Aqui falta muita coisa, muita demanda. As pessoas esquecem que aqui moram indígenas, e essa associação vem para mudar isso — para trazer brincadeiras, esporte, tirar nossos jovens do álcool, do cigarro. A presença do comitê abriu essas portas pra gente, e isso vai ser muito bom para mim e para o coletivo”, afirmou Devanilson.

Devanilson ao lado de Seane, ambos fundadores da Associação Haná'iti Kipâe'. Foto: Tero QueirozDevanilson ao lado de Seane, ambos fundadores da Associação Haná’iti Kipâe’. Foto: Tero Queiroz

 

O cacique explicou que agora é importante os órgãos do governo de MS apoiarem os indígenas que produzem arte. “A gente procurou apoio desde 2022, mas sempre encontrava portas fechadas. Hoje em dia, sem ser uma pessoa jurídica, não conseguimos quase nada. Mas agora, com a associação legalizada, a gente espera que o Estado venha, veja a gente, traga projetos, editais, oportunidades. Aqui tem artistas, tem talento, tem cultura viva”, declarou.

Seane sorri durante reunião. Foto: Tero QueirozSeane sorri durante reunião. Foto: Tero Queiroz

Seane, uma das fundadoras do grupo, celebrou o momento inédito em sua vida.

“É a primeira vez que faço parte de uma associação legalizada. As informações que vocês trouxeram são muito relevantes pra mim. Agora a gente acredita que vai ter renda, vai beneficiar a comunidade com artesanato, feiras, atividades. Isso muda a vida da gente, porque agora tudo está no papel”.

Para ela, a formalização significa não apenas mais acesso a recursos, mas também mais dignidade e estrutura para os artistas e para o território.

Jonatas Moreira, professor e integrante do grupo, destacou que a criação da associação tem impacto direto na juventude da região.

“Com essa associação, os jovens passam a ter outros propósitos e projetos. Ela vai possibilitar acessar recursos e investir em cultura, educação, esporte e ações sociais que fazem muita falta aqui. A dança pode se expandir, chegar a outras regiões, não só de Aquidauana, mas de todo o estado". 

Na avaliação de Jonatas, a formalização chega com o processo natural de amadurecimento interno: “Acho que o grupo teve seu tempo de se organizar. Agora, com tudo documentado, temos segurança jurídica para buscar novos projetos. Isso faz com que nossas ações saiam da teoria e virem realidade”, concluiu.

UM NOVO CICLO

Anderson Lima conduz assessoria técnica para indígenas da Terra Indígena Taunay Ipegue. Foto: Tero QueirozAnderson Lima conduz assessoria técnica para indígenas da Terra Indígena Taunay Ipegue. Foto: Tero Queiroz

A intenção, segundo os fundadores, é ter uma atuação transversal. “Somos um grupo que mira a preservação das culturas indígenas, então temos que lutar pelas nossas matas, pelos bichos e pelo Pantanal de pé. A nossa atuação vai abraçar todas essas áreas, graças à orientação jurídica certa para conseguirmos entender que isso é possível. É um dia histórico para nós”, concluiu o cacique Devanilson.

Associação indígena Haná'iti Kipâe' foi formalizada com apoio do Comitê de Cultura de MS, garantindo autonomia jurídica ao grupo de dança Terena. A conquista fortalece a identidade cultural. Foto: Tero QueirozAssociação indígena Haná’iti Kipâe’ foi formalizada com apoio do Comitê de Cultura de MS, garantindo autonomia jurídica ao grupo de dança Terena. A conquista fortalece a identidade cultural. Foto: Tero Queiroz

O presidente da Flor e Espinho, Organização da Sociedade Civil celebrante do Comitê de Cultura em MS, Anderson Lima, prospectou o novo ciclo da Associação Haná’iti Kipâe’. “Queremos ver eles alcançando cada vez mais lugares com a dança que mantém a memória. É um dia muito especial. Essa é a segunda associação indígena que auxiliamos na fundação jurídica. Em fevereiro, foi na Aldeia Limão Verde, com os Brigadistas Indígenas Úne Yoko Yúku. Então, o sentimento que temos é de que estamos no caminho certo”, disse.

Anderson Lima, Devanilson e a colaboradora do CCMS, Nair Gavilan, no cartório de Aquidauana para fundação da associação de dança Terena. Foto: Tero QueirozAnderson Lima, Devanilson e a colaboradora do CCMS, Nair Gavilan, no cartório de Aquidauana para fundação da associação de dança Terena. Foto: Tero Queiroz

Ainda conforme Lima, o CCMS tem uma programação extensa e diversas outras ações pela frente, viabilizadas pelo Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC). “Essa política se faz possível graças ao Ministério da Cultura, que foi retomado no governo do presidente Lula. A ideia é chegarmos onde o governo federal não consegue. Então, o CCMS é para atender a diversas demandas da cultura em Mato Grosso do Sul, mas principalmente àquelas que historicamente são negligenciadas”, comentou.

O CCMS, segundo Lima, torce para que a formalização impacte positivamente nas ações do grupo Terena. “Que o canto continue, que a dança perdure, que a nossa cultura floresça! Porque Haná’iti Kipâe’ é mais que um grupo – é o espírito de um povo que jamais se curva”, completou Lima.


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Tags: Aquidauana, CCMS, Comitê de Cultura de Mato, dança indígena, Haná’iti Kipâe, Terra Indígena Taunay Ipegue

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