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CONEXÃO 'DARK HORSE'

Produtora do "filme de Bolsonaro" abocanha R$ 113 milhões com Nunes, Pollon, Mário Frias e Zambelli

Filme produzido por outra empresa ligada a Karina Ferreira da Gama pode ser o mais caro da história do pais

Por TERO QUEIROZ • 12/12/2025 • 15:02
Imagem principal Produtora de filme sobre Jair Bolsonaro abocanha mais de R$ 113 milhões dos cofres públicos. Fotos: Reprodução - Web

Uma investigação cruzada detalha como o financiamento de produções audiovisuais da extrema-direita brasileira vai muito além de vaquinhas ou doações privadas. No centro de um esquema que movimenta centenas de milhões de reais em dinheiro público está Karina Ferreira da Gama. Ela é a produtora executiva de "Dark Horse", a cinebiografia que tenta heroicizar a trajetória de Jair Bolsonaro — condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Enquanto as câmeras rodam no centro de São Paulo para o filme dirigido pelo evangélico norte-americano Cyrus Nowrasteh e roteirizado pelo ex-secretário de Cultura e deputado Mário Frias (PL-SP), os cofres das empresas e ONGs de Karina são abastecidos por duas fontes principais: contratos suspeitos com a Prefeitura de São Paulo e "Emendas Pix" de parlamentares bolsonaristas, incluindo o deputado federal de Mato Grosso do Sul, Marcos Pollon (PL-MS).

WI-FI MILIONÁRIO E SÉRIE CONSERVADORA

A teia empresarial de Karina Gama conecta três pontas aparentemente distintas, mas financiadas pelo mesmo ecossistema político:

  1. O filme de Bolsonaro (Dark Horse): Produzido pela empresa privada de Karina, a Go Up Entertainment. Nessa empresa, Karina tem como vice o norte-americano Hector G. Campos, ex-funcionário da CMT oriundo da Turner Broadcasting System. Ele extremou para a direita e, em 2016, foi parar na conservadora "UPtv", onde também não permaneceu.
  2. O contrato de Wi-Fi em SP: Gerido pela ONG de Karina, o Instituto Conhecer Brasil (ICB), que recebeu um contrato de R$ 108 milhões da gestão Ricardo Nunes (MDB).
  3. A série "Heróis Nacionais": Produzida por outra ONG de Karina, a Academia Nacional de Cultura (ANC), financiada com R$ 2,6 milhões em Emendas Pix de deputados do PL

Nesses três projetos, Karina acessou R$ 113.951.000,00 em dinheiro público. Se metade desse recurso estiver sendo injetado em "Dark Horse", que trouxe para o papel de "Bolsonaro" o ex-Jesus de extrema direita Jim Caviezel — que ficou conhecido mundialmente por interpretar Cristo no filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, em 2004. Durante as filmagens, ele chegou a ser atingido por um raio e quase morreu de hipotermia. Há quem diga que foi milagre; outros apontam que foi punição divina.

Fato é que somente o cachê de Caviezel gira em torno de 150 mil dólares, o que daria mais de R$ 600 mil reais. Então, a pergunta que ninguém quis responder até o momento é: de onde vem o recurso que financia "Dark Horse"? A reportagem do TeatrineTV aponta neste conteúdo alguns canais de financiamento público acessados pelo conglomerado gerido por Karina.

PIX MILIONÁRIO DA EXTREMA DIREITA

Conforme denunciado em junho deste ano pelo TeatrineTV, o deputado Marcos Pollon, crítico ferrenho da Lei Rouanet, utilizou o mecanismo da "Emenda Pix" — que permite transferência de recursos sem projeto ou fiscalização prévia — para enviar R$ 1 milhão à ANC.

O objetivo oficial seria a produção da série "Heróis Nacionais – Filhos do Brasil que não se rendem". O montante enviado por Pollon soma-se a R$ 1 milhão da deputada Carla Zambelli (PL-SP), R$ 500 mil de Alexandre Ramagem (PL-RJ) e R$ 100 mil de Bia Kicis (PL-DF).

Ramagem é foragido da justiça brasileira e Zambelli foi capturada e presa na Itália, para onde havia fugido após condenações por crimes no Brasil.

A ANC, sediada em um coworking na Avenida Paulista e sem Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) para produção audiovisual, é comandada pelo mesmo grupo ligado a Karina Gama. Na prática, o dinheiro público de Mato Grosso do Sul flui para uma entidade paulista sem expertise comprovada, gerida pela mesma pessoa que produz a peça de propaganda cinematográfica do ex-presidente.

"MÃO AMIGA" DE MÁRIO FRIAS

Enquanto Pollon abastece a ANC, a outra ONG de Karina, o ICB, fechou um contrato de R$ 108 milhões com a Prefeitura de São Paulo para instalar Wi-Fi em áreas carentes.

Investigação da reportagem aponta que o serviço custou até oito vezes mais do que o praticado por empresas públicas (R$ 1.800 por ponto contra R$ 230). Além disso, a instalação dos pontos foi acelerada justamente durante a campanha de reeleição de Ricardo Nunes em 2024, e R$ 26 milhões foram pagos por serviços que, segundo auditorias, não foram prestados integralmente.

A figura onipresente em todos esses eixos é o agora deputado federal por São Paulo, e ator fracassado, Mário Frias. Veja o papel do ex-chefe da pasta da Cultura no governo bolsonarista em conexões com Karina:

  • Ele é roteirista e atua no filme "Dark Horse" (produzido pela empresa de Karina).
  • Ele destinou R$ 2 milhões em emendas ao ICB (ONG de Karina) em 2025.
  • Ele contratou a empresa de Karina para sua campanha eleitoral em 2022.
  • Pollon, por sua vez, também financiou com R$ 100 mil o filme "Genocidas", produzido por um ex-assessor de Frias.

Esse último repasse de Pollon, "mais baratinho", foi para 

SEM LICITAÇÃO, SEM TRANSPARÊNCIA

A operação desmonta o discurso de austeridade e moralidade com o dinheiro público pregado pela base bolsonarista. Enquanto atacam mecanismos de fomento cultural auditáveis, como a Lei Rouanet, os parlamentares utilizam brechas orçamentárias (Emendas Pix) e contratos municipais sem concorrência para irrigar as contas de aliados que produzem conteúdo ideológico.

No set de "Dark Horse", atores estrangeiros interpretam uma versão tosca de Bolsonaro. Nos bastidores, a realidade é a de uma "farra" com verbas que deveriam atender à população de Mato Grosso do Sul e de São Paulo, mas que acabam convergindo para o caixa das empresas de uma única produtora.

Até o fechamento desta reportagem, Marcos Pollon, Mário Frias e Karina Ferreira da Gama não enviaram posicionamento sobre as denúncias acima à reportagem.


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Tags: Cyrus Nowrasteh, Dark Horse, Go Up Entertainment, Hector G. Campos, Jair Bolsonaro, Jim Caviezel, Karina Ferreira da Gama, Marcos Pollon, Mário Frias, Ricardo Nunes

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