(Da esq/dir): O suspeito de assassinato, Nick Reiner, de 32 anos; o cineasta assassinado Rob Reiner, de 78 anos, e sua esposa, a produtora Michele Singer Reiner, de 70 anos. Fotos: Reprodução

A história do cinema norte-americano sofreu um golpe brutal na tarde do domingo (14.dez.25). O diretor Rob Reiner, de 78 anos, e sua esposa, a produtora Michele Singer Reiner, de 70 anos, foram encontrados mortos em sua residência no bairro de Brentwood, em Los Angeles. As autoridades confirmaram que ambos foram vítimas de esfaqueamento.

O principal suspeito é o filho das vítimas, Nick Reiner, de 32 anos. Ele foi detido na noite de domingo e permanece preso sem direito a fiança.

O Departamento de Polícia de Los Angeles informou que o caso será levado à promotoria na 3ª feira para a formalização das acusações de homicídio.

A tragédia interrompe de forma violenta uma das carreiras mais prolíficas da indústria, em contraste, marcada pelo humanismo e pela celebração da vida.

TENSÃO EM GALA

A cronologia do crime aponta para um conflito recente. Menos de 24 horas antes dos corpos serem descobertos, Rob e Nick Reiner foram vistos discutindo publicamente em uma festa na casa do comediante Conan O'Brien.

Uma testemunha, que pediu para não ser identificada, relatou ao The News York Times ter ouvido "Rob Reiner dizendo ao filho que seu comportamento era inadequado". O episódio, descrito como tenso, destoava do ambiente de celebração da elite de Hollywood, mas sinalizava problemas que já haviam sido explorados artisticamente pela família.

FICÇÃO E REALIDADE

Rick tinha histórico de conflitos com os pais. Em 2015, pai e filho colaboraram no drama Being Charlie, que retratava justamente a relação difícil entre um jovem viciado em drogas e seu pai famoso.

Na época, a obra foi vendida como um sinal de superação dos problemas de Nick com uso de drogas e a vida nas ruas.

Em entrevista ao mesmo jornal norte-americano, Nick chegou a declarar: "Quando eu estava lá fora, eu poderia ter morrido. É tudo uma questão de sorte. Você joga os dados e espera conseguir".

Rob Reiner também via a colaboração com otimismo na época: "Isso me obrigou a enxergar com mais clareza e a compreender mais profundamente o que Nick havia passado". A realidade, contudo, suplantou a redenção da ficção.

RELEITURA DA OBRA

A morte violenta de Reiner impõe, segundo críticos, uma nova e sombria ótica sobre sua filmografia. A linha "Vocês querem ir ver um cadáver?", proferida no clássico Conta Comigo (1986), ganha agora um peso singular tendo sua presença na realidade.

Fato é que a morte sempre rondou a obra de Reiner, mas sempre como um contraponto à vitalidade. Em This Is Spinal Tap ou Harry e Sally, a finitude era usada para ressaltar o ridículo ou a urgência do amor. Agora, até o terror psicológico de Misery (1990) tende a ser revisitado sob o espectro da violência real sofrida pelo diretor.

A ERA DE OURO

O impacto de Reiner na cultura pop é mensurável em números e influência. Entre 1984 e 1992, ele protagonizou uma das sequências criativas mais impressionantes do cinema moderno, entregando seis clássicos em oito anos.

A lista inclui This Is Spinal Tap (1984), A Princesa Prometida (1987), Harry e Sally (1989), Misery (1990) e Questão de Honra (1992). Neste período, ele revitalizou a comédia romântica e o drama de tribunal, além de popularizar o formato de mocumentário (falso documentário).

Analistas da indústria sustentam que, sem a produtora de Reiner, a Castle Rock, e sua influência direta, carreiras como as de Aaron Sorkin, Nora Ephron e até a série Seinfeld não teriam existido da forma como as conhecemos.

TRUMP FAZ ATAQUE A MEMÓRIA DO CINEASTA

Além do cinema, o crime repercutiu na esfera política. Reiner era um dos maiores ativistas do Partido Democrata. Sua morte foi lamentada por figuras como Barack Obama e Gavin Newsom, mas também foi instrumentalizada politicamente.

O ex-presidente Donald Trump utilizou a rede social Truth Social para atacar a memória do diretor horas após o crime. Trump escreveu que a morte foi "supostamente causada pela raiva que ele provocou em outras pessoas por meio de sua enorme, inflexível e incurável aflição por uma doença mental debilitante conhecida como SÍNDROME DE DESORDEM DE TRUMP".

A declaração gerou críticas até mesmo de republicanos como a deputada Marjorie Taylor Greene, que afirmou: "Esta é uma tragédia familiar, não tem nada a ver com política ou inimigos políticos".

O deputado Mike Lawler reforçou: "Ninguém deveria ser submetido à violência, muito menos pelas mãos do próprio filho".

O caso segue sob investigação, enquanto Hollywood e Washington tentam assimilar a perda de um ícone cultural em circunstâncias tão brutais.