Unidos, os grupos de teatro Clowns de Shakespeare, Asavessa e Facetas Mutretas e Outras Histórias estrearam na noite desta 6ª.feira (14.out.22) o espetáculo “Ubu – o que é bom tem que continuar!”, na Praça Ary Coelho em Campo Grande (MS).
“Campo Grande passa a ter uma página muito mais especial ainda na nossa história. Somos um grupo que faz 30 anos no próximo ano, agora por onde esse espetáculo for, Campo Grande vai com a gente, porque foi aqui que a gente começou”, resumiu o diretor e dramaturgo Fernando Yamamoto, ao comentar a estreia. Veja a galeria de fotos no final do texto.
Segundo Yamamoto, o trabalho vinha sendo desenvolvido desde o começo do ano. O Clowns de Shakespeare convidou os outros dois também de Natal... “Nesse momento de retomada da pandemia, a gente se juntou para fazer um processo compartilhado”, esclareceu.
Yamamoto se inspirou no clássico “Ubu Rei” (1896), do francês Alfred Jarry, que já tem como referência Édipo Rei, de Sófocles.
“É um texto que nos tocou muito, porque a figura do ‘Pai Ubu' é uma caricatura tão absurda que parece muito com as figuras reais que a gente está vendo governar não só o Brasil, mas outros lugares da América Latina”, comentou.
O universo do espetáculo “Ubu – o que é bom tem que continuar!” traz poloneses para a América Latina: “Eu escrevi um novo texto, porque a peça não dizia o que a gente queria. No Ubu Rei, esse texto original que se passa na Polônia, eles acabam fugindo num barco à deriva. A brincadeira que a gente faz é que esse barco chegou num país imaginário da América Latina que se chama Embustônia, e a partir daí ele vai fazer suas peripécias nessa busca sedenta pelo poder”, contou.
Apesar de haver fortes discussões políticas no espetáculo, Yamamoto observou que, entretanto, não é citado no texto escrito por ele, nenhum nome de figura política real. “Mas acho que é inevitável, para nós brasileiros, estarmos associando a todo tempo a tudo que está acontecendo”.
Em reportagem de 17 de agosto no site Saiba Mais, a repórter Isabela Santos, contou sobre “Ubu – o que é bom tem que continuar!”, àquela altura inédito, anunciando a abertura de arrecadação de fundos para a finalização da montagem. “O Campão Cultural acreditou nesse projeto. É importante falar que é um projeto que a gente está fazendo desde o começo do ano, sem nenhum dinheiro. Quando o Campão Cultural fez o convite para nós do Clowns, para estarmos participando dessa edição, a gente propôs fazer essa estreia aqui, então, eles possibilitaram a gente estrear o espetáculo. Estamos muito felizes de estarmos aqui, temos muitos amigos, grupos da cidade e estamos sendo super bem-recebidos”.
No pátio da Praça Ary Coelho, a dinâmica de teatro de Rua vigorou, com um cerco formado próximo ao chafariz central. No local, as atrizes Deborah Custódio, Paula Queiroz e os atores Caju Dantas, Diogo Spinelli e Rodrigo Bico deram vida pela primeira vez a diversos personagens que auxiliam “Pai Ubu” e “Mãe Ubu”, em suas buscas pelo poder.
Na programação oficial do Campão Cultural, a estreia do espetáculo era para ter ocorrido às 19h30 da 5ª.feira (13.out.22), na Feira da Orla Morena. Entretanto, em razão da chuva, o espetáculo teve sua localização de execução trocada. “Originalmente seria na feira, mas choveu. Esse é um dos problemas do teatro de rua. Em razão da chuva, adiamos para hoje. Aí, lá na Praça da Locomotiva ficava próximo de outros eventos, com concorrência sonora com os shows, então, acabamos trazendo para cá”, esclareceu Yamamoto.
“Eu acho que em geral, em todo o país, somos muito irmanados. Os grupos de teatro são muitos irmanados, porque acho que sofremos das mesmas dores, das mesmas dificuldades, em especial nós que estamos no Brasil profundo. Seja no Brasil profundo do Rio Grande do Norte ou do Mato Grosso do Sul, nos lugares em que a gente está menos visível para o Brasil. Nesse sentido, essa irmandade acaba sendo uma condição de sobrevivência”, comentou.
Para o diretor, a união dos três grupos potiguares resume o aspecto de sobrevivência de artistas do teatro que se reinventam em condições adversas. “A gente já esteve em Bonito e aqui em Campo Grande, anteriormente. Não só nisso, como nos movimentos de articulação política a gente acabou fazendo uma rede de relacionamentos com grupos daqui. Circo do Mato, Fulano Di Tal, Vitor Samúdio, o Teatro do Mundo do Fernando Lopes, o Anderson Lima, enfim, com muita gente daqui da cidade. Já tínhamos ouvido falar muito do Maracangalha, não conhecíamos eles, fomos assisti-los na programação do Campão, eles vieram nos assistir aqui. A cada oportunidade dessa, a gente vai ampliando mais essas redes”, enumerou.
Yamamoto finalizou dizendo que se revigora ao ver que artistas do teatro campo-grandense estão firmes, resistindo a esse período político difícil para a cultura brasileira. “O Circo do Mato, com espaço muito menor do que da última vez que eu vim, mas mantendo o espaço. O Teatro do Mundo abrindo um espaço incrível em breve, acho que mês que vem. O Fulano Di Tal com sede, os grupos produzindo... enfim, bacana ver isso, é bonito ver isso, principalmente nesse momento de desmonte da cultura no Brasil. Espero que estejamos no final desse processo tão tenebroso, existir é a principal resistência, né? A gente tem visto grupos sendo desmontados por todo Brasil, porque as pessoas estão tendo que fazer outras coisas para sobreviver. E quando a gente vê os grupos aqui se mantendo, resistindo, mesmo com todas essas dificuldades é muito bonito”, completou.
Neste sábado (15.out.22), às 10h, o grupo Clowns de Shakespeare reapresenta “Ubu: o que é bom tem que continuar”, no calçadão da Rua Barão do Rio Branco.
A assistência de dramaturgia é de Camila Custódio. A Direção musical é de Marco França. Marcos Leonardo assina o figurino e adereços. Fernando Yamamoto e Rafael Telles assinam o cenário. A produção é de Rafael Telles. PARA BAIXAR AS IMAGENS, CLIQUE AQUI.
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