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Tesoura

Em Tesoura, 'bicha velha' e 'novinho' duelam para 'rasgar a vida'

Espetáculo teatral será apresentado em 5 e 6 de maio

Por TERO QUEIROZ • 27/04/2023 • 18:47

"Tesoura", novo espetáculo do Teatral Grupo de Risco (TGR) de Campo Grande, estreia às 19h30, dos dias 5 e 6 de maio, debatendo o envelhecer homossexual e o autorreconhecimento gay na juventude. A ficção teatral do dramaturgo e ator Yago Garcia, desagua num conflito arrebatador, que abrirá uma enorme gama de discussões.

Sebastian, vivido por Fábio Umeda e Mauro, vivido por Garcia, discutem numa barbearia caseira de periferia, onde há um sofá, um espelho azul, um mancebo ou cabideiro com algumas flores, que completam a paleta intimista do cenário.

 — É uma portinha, um comércio pequeno, extremamente periférico — esclareceu Garcia, num ensaio ao qual a reportagem do TeatrineTV foi convidada para assistir na manhã de 17 de março de 2023.

Quando chegamos ao novo espaço teatral do TGR, que já mostramos aqui no TeatrineTV, Garcia e seu colega de cena, Umeda, ensaiavam "Tesoura" sob os olhares atentos de Ewerton Goulart e Roma Román, respectivamente, diretor e colaboradora de cena, que estavam sentados próximo a arquibancada.

Román, tida como uma das patronas do grupo, se servia de uma xícara de café e, no intervalo das levadas calmas da xícara a boca, ela indicava cochichando com Ewerton suas impressões sobre a dramaturgia. — Podemos parar um pouquinho? — perguntou Román. — Sim, claro — respondeu Goulart, paralisando o ensaio e chamando os atores para perto da arquibancada.

— Acho que podemos variar entre essas emoções explosivas, sabe? Ser mais calmo nisso. Acho que tem que ser uma coisa mais mista e evitar esses movimentos de braço que não indicam nada para a cena —apontou ela, mirando a dupla de intérpretes.

— Isso. E Fábio, tem esse balanço de falar indo muito para frente com o corpo, vamos reduzir isso — acrescentou o diretor, escalado para fazer uma das propostas cênicas mais verborrágicas do grupo.

— Minha proposta é principalmente trabalhar a direção do ator. Às vezes, a gente martela a questão do resultado físico da coisa, mas o processo aqui é observar as questões do interior para o exterior. Nós vamos atacar o lugar de ocupar os silêncios — explicou Goulart.

O TEXTO

Por meio do texto, Garcia disse que pretende levar ao público a realidade nua e crua.

— Esse texto, ele surge na minha vista dos tipos de conversa que tem nesse meio. Esse jovem, que consome teatro, talvez ele não conheça esse tipo de lugar, talvez ele veja a realidade crua e as verdades que temos medo de falar. Nós vamos chegar aqui no meio e dizer, sim: ‘bicha, velha’, por que o que é uma pessoa homossexual que envelheceu e está entendendo isso? O que é isso para uma pessoa homossexual jovem? — questinou.

— Tem dois conflitos: o envelhecer homossexual e ser jogado isso na cara, mas também tem o conflito desse garoto que ele está se descobrindo homossexual, porque ele é michê, mas durante o espetáculo ele vai se descobrir — adiantou o dramaturgo.

— Quem assistir vai perceber muito a presença do Plínio Marcos, autor que tive uma bagagem razoavelmente boa — considerou o dranaturgo que aos 48 anos, traz ao mundo seu segundo texto original. — Eu escrevi uma peça infantil em 2002 e agora me deu vontade de escrever e pôr em cena as experiências que eu tive com o Plínio.

Garcia ainda falou sobre o objeto cênico da que dá nome ao espetáculo e como ele se relaciona diretamente com as nuances do texto e do cotidiano dos personagens.

— A tesoura tem essas duas lâminas. São duas cabeças e são duas lâminas que se juntam para cortar. Acho que quando esses personagens estão juntos rasgando essa vida. Todo mundo precisa rasgar a vida, temos que cortá-la ao meio.

DESAFIOS

(esq/dir):  Fábio Umeda e Yago Garcia. Foto: Vaca Azul
(esq/dir): Fábio Umeda e Yago Garcia. Foto: Vaca Azul

Ainda durante o intervalo do ensaio, Garcia revelou ao TeatrineTV, os desafios de dar vida à Mauro.

— Para mim todo personagem é um desafio, fazer um homossexual para mim é um desafio. Existe esse personagem? Existe! Aqui, corremos o risco de cair num lugar clichê, mas ele existe. Para mim, o principal desafio é fazer um homossexual tão afetado como esse — externou.

Umeda, falou sobre sua experiência de estar em cena com o Yago e de integrar o time de atores experientes do TGR, grupo que está há 35 anos em plena atividade em Mato Grosso do Sul.

— Cara, é maravilhoso trabalhar com o Yago, em questão de cena principalmente. Não só no Tesoura, mas em todos os espetáculos do grupo, Yago, Ewerton, com a Fernanda também e os demais, todos são extremamente generosos comigo. E assim, acho que é até complicado esse lugar, mas eu me considero um ator iniciante. Eu cheguei aqui cedo, eu tenho 21 anos. E aqui em Campo Grande, a gente acha formação fazendo. Há uma grande diferença entre mim e o Yago em cena, claro — apontou.

Para Umeda, dar vida a Sebastian é incomum, mas que se sente confiante chegar a um bom resultado, colhenado das experiências do diretor, colaboradores e do colega de cena.

— Estou tentando me aproximar de onde ele está. É bem incomum para mim, nunca tive nesse lugar e nesse ambiente, mas estou trabalhando para chegar. E vou olhando e aprendendo com os colegas —comentou o ator, que também estudante de Artes Cênicas.  

— Em relação a esses dois atores, ele vem de processos diferentes. Com o Yago tem muita coisa que temos que ir retirando, já o Fábio é oposto, como ele é mais jovem temos que ir adicionando coisas para complementar a cena — detalhou Goulart.

OLHAR AMPLIADO

Román, contou que "Tesoura" marca seu retorno nas colaborações para com o grupo.

— Eu fiquei praticamente 3 anos desvinculada do grupo, por causas da pandemia e depois por problemas particulares, mas o teatro é um problema sério na minha vida, sou uma mulher do teatro, eu não sei viver sem ele. Então, eu voltei porque estou envolvida mais com o Guardiões [outro espetáculo do grupo], aqui trabalhamos horizontalmente.

O interesse de Román pelo espetáculo se dá muito pelo fato de ser uma dramaturgia com tema amplo.

— Existe um culto ao novo, né? Então, acho que é uma metáfora dessa sociedade que faz esse bullying constante, se você estiver aberto fará vários links com o cotidiano. Uma sociedade egocêntrica, que é vazia e por isso não se sustenta. Se a pessoa que vir assistir e se permitir, não verá apena um tema concreto, homossexualidade, mas verá muita coisa das violências da sociedade, isso me atrai nesse trabalho — apontou lembrando o caso de uma mulher que foi atacada nas redes sociais por entrar no curso de Medicina aos 40 anos.  

ENTRADA FRANCA

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O espetáculo "Tesoura" tem classificação indicativa de 16 anos e será apresentado na sede do TGR, na Rua Trindade, 401, Jardim Paulista.

— As duas primeiras apresentações são de entrada franca, porque fazem parte do projeto teatral "Depois do fim do mundo". Então, o público tem que aproveitar e vir.

A nova montagem é parte do projeto "Depois do fim do mundo", de manutenção das atividades do grupo, que recebeu R$ 86 mil ao ser contemplado no edital de Fomento ao Teatro da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Campo Grande (Fomteatro/Sectur/PMCG). O projeto começou a ser executado em fevereiro de 2023 e prevê doze apresentações teatrais, diversas oficinas de formação e a montagem original.


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Tags: #TeatrineTV, Campo Grande, CULTURA, destaque, FCMS, Mato Grosso do Sul, Tesoura

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