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Artes Visuais

​​Lidyloo homenageia belavistenses e Bocaiúva promove moda inclusiva na passarela

Por TERO QUEIROZ • 21/10/2022 • 19:07

Entram na passarela da 1ª Semana de Moda Autoral de Mato Grosso do Sul,na noite desta 6ª.feira (21.out.22), as marcas Lidyloo, às 20h30, e Bocaiúva Moda Inclusiva, às 21h. O desfile está acontecendo no Armazém Cultural, em Campo Grande (MS). O evento, aberto ao público, teve início em 19 de outubro e segue acontecendo até este sábado (22.out.22).

A reportagem do TeatrineTV falou com os designers à frente das marcas Lidyloo e Bocaiúva em 17 de outubro, durante coletiva à imprensa.

Bela-vistense, Lidiane Lopes, é a responsável pela Lidyloo. Ela faz moda desde criança, mas foi a partir dos 16 anos, na época moradora da fronteira, que viu seu estilo nascer sob influência da miscigenação da região. “Lá, eu usava muita saia, porque minha família é paraguaia”, introduziu.

A designer explicou que só produz peças femininas e acredita que tem como diferencial o uso de cortes inspirados nos anos 50 em que mistura com os estilos das vestes da fronteira e de um estilo musical. “A minha vivência, gosto de rockabilly, as meninas rockabillys, um country do Rock, né? Um Rock sertanejo…  são minhas inspirações porque eu vim de uma família onde as paraguaias usavam muitas saias rodadas, os corpetes… vou mostrar nas peças a história e um pouco do que vive de influências musicais”, esclareceu.

Esssa é Lidiane Lopes, proprietária da marca Lidyloo. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv

Lidiane disse considerar a 1ª Semana da Moda Autoral uma oportunidade. “Sempre tem eventos aqui, tipo o MS Fashion Week, mas eles não trazem moda autoral. Tem muita gente aqui que costura e cria, esse evento é importante para dar visibilidade para gente, para mostrar que sim, Mato Grosso do Sul tem moda”, completou. Ela expõe 12 peças no desfile desta noite.

À frente da Bocaiúva Moda Inclusiva, Eduardo Alves, de 31 anos, falou ao TeatrineTV sobre a história dessa marca, que foi uma das 11 selecionadas para desfilar. “Era eu e Luane Sales, quando surgimos em 2015, ainda sem essa denominação: ‘Bocaiúva’. Começamos a trabalhar com moda inclusiva a partir de um concurso Internacional que era promovido pela Secretaria das Pessoas com Deficiência do estado de São Paulo. Na época, produzimos peças visando inclusão em relação ao concurso, mas não era ainda uma marca. Em 2019 criamos o projeto Bocaiúva, que visa fomentar, divulgar, ensinar as pessoas e as marcas a produzirem moda para Pessoas com Deficiência [PcD]. A marca surgiu em função desse projeto. Temos participado de muitos festivais, como o Campão Cultural”, introduziu o designer que trabalha com moda há 12 anos.

Júlia Delphino, de 27 anos, começou a trabalhar com moda aos 10 anos de idade e passou a integrar o Bocaiúva em 2016, após fazer um curso promovido por Eduardo e Luane. “No Bocaiúva a gente pensa na beleza, no estilo da peça e depois a gente faz as adaptações. A peça tem que ser bonita, a pessoa tem que gostar e se sentir confortável. Desenvolvemos as etiquetas em braile, as aberturas laterais, elástico atrás para quem faz uso de calça plástica. Não colocamos bolsos traseiros para evitar escoriações. Tudo isso é pensado depois que a peça está pronta, bonita ali no desenho”, comentou.

Trabalhar com nicho da moda inclusiva não foi algo programado por Eduardo. “Surgiu de um preconceito meu… Eu ouvi falar do Concurso Internacional de Moda Inclusiva em 2014 e aí, na época, pesquisei e pensei: não é para mim, produzir peças para pessoas com deficiência? Larguei mão! Mas em 2015 eu ouvi falar do concurso de novo. Aí já comecei a achar que era um chamado. Pesquisei e comecei a estudar esse mercado, notei a importância da moda inclusiva e notei que havia peças no mercado, mas com um déficit muito grande no design. Eram funcionais, mas sem a beleza. O que o Bocaiúva faz é dedicar-se muito à beleza da peça”, explicou.

Esses são Eduardo Alves e Júlia Delphino, proprietários da marca 'Bocaiúva Moda Inclusiva'. Foto: @teroqueiroz | teatrinetv

Júlia disse que passou a integrar o Bocaiúva por acreditar que as peças que eles criam mudam realidades e não apenas é um meio de ter renda. “Estávamos em uma competição um dia, aí chegou uma moça com uma filha que faz uso de cadeira de rodas, a mãe viu uma peça nossa e percebeu que com aquela peça a filha dela iria poder se vestir sozinha e com um look lindo, ela começou a chorar. Foi assim, o que fazemos é para gente de verdade. Uma moda com propósito, não está ali só para o lucro. É uma moda que a pessoa vai usar, a pessoa vai gostar de usar, esse é o intuito da marca”.

A reportagem do TeatrineTV questionou se o fato de as peças estarem num nicho impacta nos preços. “É mais cara aquela com design mais sofisticado, do que sobre a funcionalidade. Temos peças com os valores parecidos com os colegas aqui”, garantiu. Nos estandes, as 11 marcas estão também comercializando as peças com valores que variam de R$ 90 a R$ 400,00.

A dupla Bocaiúva disse à reportagem que no desfile de hoje, vão apresentar peças pautadas em inspirações do Pantanal. “Vamos trazer um olhar para o Cerrado e nosso Pantanal, para as pessoas olharem para nossa terra e poderem se vestir sem prejudicar o meio ambiente”, adiantou Júlia. “Temos aliados o social e o ambiental em nossas peças, trabalhamos com tecidos sustentáveis. Fazemos moda por propósito”, observou Eduardo.

Eduardo disse que ao fazer moda inclusiva em MS percebe que está também levando outras marcas a adotarem a acessibilidade nas peças.  “O mais gratificante de tudo é tirar as pessoas da invisibilidade. Agora no Festival Campão Cultural tivemos desfile de moda com pessoas que fazem uso de cadeira de rodas. As outras marcas estão abrindo os olhinhos, com peças para pessoas com deficiência, esse público é 10% da comunidade mundial. Para nós a maior satisfação é que estão entendendo que é preciso ter diversidade dentro das passarelas, vão entender que essas pessoas são corpos reais que precisam aparecer”, concluiu.

Júlia finalizou dizendo que com incentivos do poder público, a Moda Autoral de Mato Grosso do Sul tem a capacidade de ter grande expressão nacional. “Eu não só acho que pode, como vai. Não sei se vai ser hoje, amanhã, mas vai. A moda começou assim. Olha para os festivais, o São Paulo Fashion Week começou pequeno e hoje é um dos maiores da América Latina. Queremos que junto a esse crescimento seja valorizada a mão de obra dos pequenos, a costureira,  a marca, o produtor do tecido. O Bocaiuva tem isso em seus valores, todo mundo tem que ganhar, principalmente o meio ambiente”.

Abre o desfile desta noite a marca FNK, de Edson Clair, às 19h30. Na sequência os modelos mostram as peças de Lauren Cury.

SERVIÇO

A I Semana de Moda e Design de MS acontece de 19 de outubro a 22 de outubro sempre a partir das 19 no Armazém Cultural - Avenida Calógeras, n.º 3065, centro de Campo Grande.

A programação completa do evento pode ser acessada AQUI.

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Tags: #arte, #TeatrineTV, 1ª Semana de Moda Autoral de MS, Campo Grande, CULTURA, Mato Grosso do Sul, Moda

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