O vereador Ronilço Guerreiro (Podemos), fez um vídeo na tarde de 1º de dezembro, comparando a obra do Centro de Belas Artes de Campo Grande (MS) a uma telenovela "que nunca acaba".
Na publicação, o legislador reclama que em duas tentativas da gestão de Adriane Lopes (PP), de finalizar o empreendimento cultural, as empresas vencedoras dos certames abandonaram logo após vencerem.
"Desde o início do meu mandato [em 2021] tenho destinado esforços para ver a finalização da obra do Centro de Belas Artes mesmo em passos lentos, já vejo avanço. Acreditem, não é fácil! Estou todos os dias em contato com secretário, responsável pela obra, visito semanalmente o espaço e, apesar da morosidade, as coisas estão andando neste espaço que é da Cultura", disse Guerreiro na legenda. Eis o vídeo:
Como mostramos aqui no TeatrineTV, a "Capital das Oportunidades", na verdade, não oferece nenhuma oportunidade para seus agentes culturais, visto que não tem nenhum teatro público e acumula fracassos na gestão dos recuersos culturais. Mas hoje, vamos conhecer a novela da maior obra cultural paralisada no centro da Capital.
CAPÍTULOS
A novela “Obra do Centro de Belas Artes”, começou há 32 anos, no governo de Pedro Pedrossian, como um empreendimento para a nova rodoviária de Campo Grande.
Nessa história de três décadas, serão destacados cinco personagens: dois ‘Prefeitos Irmãos’, a ‘Obra’, a ‘Justiça’ e uma ‘Empreiteira’.
A OBRA
Está localizada na Avenida Ernesto Geisel com a Rua Plutão, no Bairro Cabreúva, região central da cidade.
Inicialmente, a ‘Obra’ seria o terminal rodoviário “Engenheiro Euclides de Oliveira” e Pedro Pedrossian chegou a inaugurar o local, mesmo inacabado, num almoço com taxistas em 1994.
O sucessor de Pedrossian, Wilson Barbosa Martins (MDB), deixou o local parado na sua gestão alegando falta de recursos.
O próximo governador foi Zeca do PT, que tentou retomar a construção da rodoviária, mas travou uma queda de braço com o então prefeito de Campo Grande e rival político André Puccinelli, que na época, impôs um alvará e readequações viárias no valor de R$ 43 milhões, para permitir que o governo retomasse a construção.
Então, em 2000, a ‘Obra’ já tinha sugado R$ 4,4 milhões e precisava somente de mais R$ 2 milhões para ser terminada. A prefeitura de Puccinelli propôs uma Guia de Diretrizes Urbanas (GDU) com valor bem menor ao rival político, Zeca, mas não houve acordo.
Posteriormente, sem a viabilidade viária do terminal, surgiu a ideia de transformar a ‘Obra’ na Unidade Pantaneira de Arte e Cultura Regional (UPACR). À época, essa ideia não foi aceita pela ‘Justiça’, que alegou que já haviam sido gastos muitos recursos públicos para um terminal rodoviário que deveria ser concluído. A ‘Obra’, então continuou paralisada.
Em 2006, Puccinelli foi eleito governador e transferiu a responsabilidade da ‘Obra’ para a prefeitura, após firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público. O TAC previa o compromisso de concluir a ‘Obra’ e transformá-la, agora sim com aval dos promotores, no Centro de Belas Artes.
PREFEITOS IRMÃOS
Desde que começou, a novela da obra teve como personagens centrais em seus capítulos os prefeitos de Campo Grande, André Puccinelli (MDB), Nelsinho Trad (PMDB), Alcides Bernal (PP), Gilmar Olarte e Marquinhos Trad (PSD).
O autor de capítulos marcantes, exibidos doze anos depois do início da ‘Obra’, foi o prefeito Nelsinho Trad (PSDB).
Em 2006, em meio a pressão de artistas que cobravam por espaços culturais, Nelsinho decidiu retomar a ‘Obra’, dessa vez como o projeto do Centro de Belas Artes. A proposta foi aceita pela ‘Justiça’ e efetivamente licitada em 2008, num contrato de mais de R$ 6 milhões com a ‘Empreiteira’ Mark Engenharia.
Durante os quatro anos seguintes, a ‘Empreiteira’ seguia com a ‘Obra’, mas a passos lentos.
O protagonismo de Nelsinho na novela foi encerrado em 2012, sem que a ‘Obra’ tivesse sido concluída.
Em 2013, entrou em cena o prefeito radialista Alcides Bernal (PP), que daria início a uma das gestões mais conturbadas da história da Capital sul-mato-grossense.
Devido a supostos atrasos nos pagamentos, sob a gestão Bernal, em 2013, com 80% da obra executada, a ‘Empreiteira’ entrou na justiça contra a Prefeitura cobrando supostos créditos pendentes. Paralelamente a trama, conflitos entre o radialista e seu vice-prefeito, pastor Gilmar Olarte, levaram a 4 anos perdidos nos episódios da novela.
Em 2017, ocorreu a entrada de outro personagem icônico: Marquinhos Trad (PSD).
Irmão do autor da trama, Marquinhos realizou um acordo com o Ministério Público (MPMS), para continuar os capítulos da ‘Obra’. Então, em 2018, a gestão de Marquinhos conseguiu R$ 7 milhões de empréstimo junto ao Programa de Financiamento à Infraestrutura (FINISA) para concluir a 1ª etapa da ‘Obra’. A licitação, no entanto, só saiu em 2020, quando a gestão de Marquinhos assinou o contrato com a Vale Engenharia, por R$ 3,1 milhões.
‘A JUSTIÇA E A EMPREITEIRA’
Em cena desde sempre, a ‘Justiça’, interferiu mais uma vez e suspendeu em maio de 2020 a retomada da ‘Obra’, em função de uma perícia a ser realizada para descobrir o que o Prefeitura ainda devia à ‘Empreiteira’ que começou a novela.
Devido à demora no desfecho do processo, a Vale Engenharia e Construção pediu rescisão do contrato meses depois, alegando que as planilhas de custo ficaram defasadas.
Em novembro de 2020 foi aberta a nova licitação, que teve participação de sete empresas, mas sepultada com o advento da pandemia de Covid-19.
IRMÃO DO AUTOR
Em 2022, pós-pandemia, Marquinhos Trad (PSD) chegou a retomar a obra, porém, a Orkan Construtora, de Sidrolândia, apesar de vencer a licitação de R$ 4 milhões, não iniciou os trabalhos, levando a quebra de contrato em junho de 2022.
Um mês depois, o ‘Irmão do Autor’, foi acometido da ideia de travar uma batalha contra o ‘império’ tucano, disputando eleição estadual contra o antigo aliado, Reinaldo Azambuja (PSDB), que havia lançado seu secretário Eduardo Riedel. A ideia fatal culminou na derrota eleitoral e na saída de cena de ‘Marquinhos Trad’, como suspeito de crimes sexuais.
6ª PERSONAGEM DE DESTAQUE
Atualmente, a ‘Obra’, nada mais é que um esqueleto vandalizado no centro da cidade, que segue recebendo verbas públicas para novos capítulos, escrito por novas oligarquias políticas.
Adriane Lopes (PP) é a 6ª personagem do Executivo municipal a participar da novela “Obra do Centro de Belas Artes”. Ela, que já acumula calotes à cultura não tendo lançado os editais públicos FMIC e FOMTEATRO desde que assumiu em 2022 — isso é, não fez nem o mínimo — promete terminar a telenovela mais longa e cara para a cultura sul-mato-grossense. Como boa rival da cultura, ela quer adicionar um capítulo a novela. Adriane pretende que Centro de Belas Artes seja entregue para empresários e para o Sistema S fazer de lá o famigerado Parque Tecnológico, gestado por Marquinhos Trad.
Conforme Ronilço Guerreiro, a estratégia da prefeita agora é deixar a ‘Obra’ para ser licitada em 2024 — ano eleitoral — e seguindo a tradição, ela deve prometer a conclusão para dezembro de 2024.
'FICÇÃO'
O Centro de Belas Artes, se um dia concluído, teria 11 mil e 500 metros quadrados de área no local projetados pelo arquiteo Rubens Gil de Camillo.
No prédio cultural haveria espaço para as artes plásticas, dança, música, uma escola de teatro, salas para oficinas, restaurante, área para convivência, exposições de artes plásticas, pinacoteca municipal, e alojamento para 100 pessoas pernoitar com entrada independente.
Conforme o documento do projeto original, o local abrigaria também os ensaios da Banda Municipal Ulisses Conceição, da Orquestra Sinfônica Municipal e de grupos de teatro e de dança. A entrada principal seria pela Avenida Ernesto Geisel.
Além disso, o espaço teria um teatro multifuncional para 400 lugares, com pé direito alto e fosso para músicos, o que possibilitaria, por exemplo, apresentação de dança com orquestra.