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Esplanada Ferroviária

'Parktec CG não será na Esplanada Ferroviária', diz secretária

Os mais diversos setores compreenderam que o Armazém cultural é um espaço nosso e que, para que seja tomado esse espaço, teria que ser através de muita luta

Por TERO QUEIROZ • 25/08/2023 • 09:44

A Secretária de Cultura e Turismo de Campo Grande (MS), Mara Bethânia Gurgel, revelou na noite da 4ª feira (23.ago.23), que o projeto do Parque de Inovação Tecnológica (Parktec CG) — antes chamado de Parque Digital — deve ser executado neste ano, mas não usará as instalações da Esplanada Ferroviária.

“Isso aqui é uma zona de interesse cultural da nossa cidade, não será feito aqui. Isso aqui é da cultura, dos artistas e do povo dessa cidade. O projeto está sendo implantado em outro local e a prefeita vai fazer o anúncio da próxima semana”, garantiu a chefe da pasta cultural e turística durante o evento do 1º Festival Reviva Mais Campo Grande 124 anos.

Como mostramos aqui no TeatrineTV, artistas campo-grandense travaram uma verdadeira batalha contra a Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio (Sidagro) que queria implantar o parque na área cultural. A briga teve início ainda na gestão de Marquinhos Trad e se arrastou pelo primeiro semestre da gestão de Adriane Lopes.

O projeto do Parque detém R$ 94 milhões oriundo do Ministério do Desenvolvimento Regional e germinou em 2021, porém, somente em 2022 que a Cultura tomou conhecimento de que o local almejado para implantação do referido parque era o único espaço público ainda aberto usado para ações culturais: o “Armazém Cultural”.

A criação do projeto foi feita na surdina e na época da gestão Trad a prefeitura chegou a empossar um grupo de estudo com dois agentes culturais, que ao longo do desenvolvimento do projeto tiveram nulidade de voz. Eles diziam: “O Parque não pode usar o Armazém Cultural, pois o espaço é o único aberto à Cultura na cidade”, mas foram ignorados. Registramos essa denúncia aqui.

A Capital de MS não tem nenhum teatro público e acumula obras culturais paralisadas, a exemplo do Centro de Belas Artes, iniciado na gestão Nelsinho Trad — prefeito há 31 anos, pelo PMDB. Desde então, a obra ficou estacionada na gestão do prefeito André Puccinelli (PMDB), Alcides Bernal (PP) e, em 2022, Marquinhos Trad (PSD) chegou a retomar a obra, porém, a Orkan Construtora, de Sidrolândia, apesar de vencer a licitação de R$ 4 milhões, não iniciou os trabalhos levando a quebra de contrato em junho de 2022. Adrine Lopes (PP), é a 5ª Chefe do Executivo que não dá finalidade ao Centro de Belas Artes.

Diante do drama vivido pelos artistas com “0” espaços públicos, o Armazém se tornou um ninho cultural abrigando diversas atividades, inclusive no local deve ocorrer o 2º Festival Campão Cultural (da Fundação de Cultura de MS) e o está ocorrendo o 1º Festival Reviva Mais Campo Grande Cultura e Turismo (da Sectur).

Além disso, o Armazém abriga feiras, exposições de artesanato, exposições de artes plásticas. Na época a classe artística se mobilizou contra a tomada do prédio cultural. A classe organizou audiências públicas da Câmara dos Vereadores, chamada pelo vereador Valdir Gomes. Fizeram um abaixo assinado e por fim uma manifestação com um sarau em frente ao prédio histórico. Isso levou a prefeitura a recuar da tomada do espaço.

A informação revelada pela secretária foi celebrada por uma integrante do Fórum Municipal de Cultura (FMC) de Campo Grande. “A Esplanada Cultural tem um grande valor simbólico para Campo Grande. Ela é um lugar de memória que testemunha a chegada do progresso e do processo de urbanização do município. Com a desativação desse trecho ferroviário esse local foi ressignificado pela população campo-grandense ao longo dos anos, consolidando-se como um importante centro cultural, onde as pessoas se reúnem para fazer e participar dos mais diferentes tipos de manifestações culturais. Por isso, a decisão de construir o Parque Digital fora desse complexo foi uma grande vitória para a Cultura e para os cidadãos campo-grandenses”, comentou a cineasta Ara Martins.

A Coordenadora do Fórum Municipal de Cultura e Coordenadora dos Fórum Estadual das Entidades do Movimento Negro de Mato Grosso do Sul, Romilda Pizani, avaliou que o fator eleitoral pesou para a decisão do recuo da administração municipal. "O que que eu entendo disso: nós estamos aí novamente num processo político eleitoral, e nós sabemos, ou pelo menos estamos vendo como está essa atual gestão municipal. E se for fazer uma análise fria ou uma análise estratégica em relação a isso, então esse é o melhor posicionamento que essa gestão tem que ter nesse momento, tendo em vista que há uma possibilidade de colocar seu nome para a reeleição, né? Eu entendo que o que mais favoreceu para que esse recuo aconteça são as pretensões políticas de gestão", apontou.

Por outro lado, Pizani disse que a briga dos diversos setores culturais foi de extrema importância: "Nossa luta foi importante enquanto grupo, enquanto segmento, sim! Fez total diferença em saber que com a gente tem que ser mais embaixo, né? Ou seja, as pessoas sabem da seriedade e do comprometimento que tem o segmento cultural e os seus mais diversos setores da cultura. E nós provamos isso em vários momentos. Então, se não houvesse esse recuo, essa gestão sabe e tem o conhecimento que, embora não tenhamos a certeza de que ganharíamos, mas que trabalho nós daríamos. Ou serja, a resistência do segmento da cultura é fundamental e importante para que esse processo se dê dessa forma", considerou.

"Os mais diversos setores compreenderam que o Armazém cultural é um espaço nosso e que, para que seja tomado esse espaço, teria que ser através de muita luta", avaliou.

Apesar de celebrar a notícia, Pizzani apontou que o prédio cultural ainda corre risco de ser descarecterizado. "Eu não acredito que eles tenham desistido do projeto. Eu acredito que esteja se dando um tempo para que eles possam tomar fôlego ou para as pretensões políticas partidárias em relação aos projetos, mas isso também faz com que a gente fique sempre com um olho fechado e outro aberto, porque a gente não sabe o que vem. Mas nesse momento, o que causou e o que tem causado esse recuo, penso que é o entendimento sobre o nosso potencial enquanto resistência, resistência de grupo, resistência em relação a não perder esse espaço. E mais, né? É a nossa resistência enquanto cidadão", completou.

De fato, a titular da Subsecretaria de Gestão e Projetos Estratégicos (Sugepe), Catiana Sabadin, já revelou em 27 de junho que a saída do Parque do Armazém é um medida 'provisória'. “A previsão da Prefeitura é lançar o Parque em um espaço provisório no segundo semestre, até que o recurso seja viabilizado, assim como os projetos e contratações das obras de requalificação definitiva para o complexo”, disse a titular da Sugepe em 7 de julho.

(25.ago.23) - Local onde será o Parktec CG. Foto:

A prefeita Adriane Lopes deve anunciar o local do projeto ainda nesta semana. A reportagem do TeatrineTV revela com exclusividade que o local provisório do Parktec CG é na Avenida Rachid Neder, 760, no Bairro Monte Castelo, no prédio onde estava o Grupo WTW - Soluções em Marketing.


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Tags: 1º Festival Reviva Mais, Campo Grande, CULTURA, destaque, destaque_principal, Mara Bethânia Gurgel, Mato Grosso do Sul, Parktec CG, Sectur

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