
Com um currículo recheado de obras culturais inacabadas e espaços públicos esquecidos, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), decidiu assumir mais um papel de destaque na dramaturgia da gestão pública: anunciou nesta 5ª feira (26.jun.25) que a Prefeitura tem R$ 33 milhões para, enfim, concluir o esqueleto da antiga rodoviária do bairro Cabreúva — um símbolo do descaso há mais de 33 anos e agora rebatizado como “hub tecnológico”. A promessa, claro, entra em cartaz como mais um capítulo de ficção orçamentária.
O recurso chegaria por meio de fundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e recursos do Ministério das Cidades, meio de financiamento ou empréstimo. Com issom a prefeitura contrai uma dívida para a gestão da cidade que precisará ser paga futuramente.
Curiosamente, a reestreia do “elefante branco” está marcada justamente para este 26 de junho — dia em que a prefeita Adriane Lopes completa 49 anos. Um presente que mistura celebração pessoal com o teatro das obras públicas inacabadas, como se a gestão quisesse transformar seu aniversário em espetáculo, repetindo um roteiro já conhecido de anúncios e adiamentos. “Transformar o Belas Artes em um Complexo de Cultura, Tecnologia e Inovação é mais que uma obra física, é um compromisso com o futuro de Campo Grande. Estamos fazendo o certo, fazendo o que precisa ser feito para oferecer à nossa cidade um espaço que impulsione a criatividade, o conhecimento e o desenvolvimento”, prometeu Adriane Lopes.

O anúncio foi feito durante a abertura do 3º Congresso Sul-Mato-Grossense de Cidades Digitais e Inteligentes, onde Adriane subiu ao palco com o roteiro de sempre: inovação, modernização e parceria com universidades. Segundo ela, o prédio será transformado na sede da Agetec, a agência de tecnologia da prefeitura, e ainda abrigará um parque tecnológico. Para os moradores da região, no entanto, que convivem diariamente com matagal, ferrugem e promessas requentadas, a nova produção parece só mais uma maquiagem caprichada em cima de um velho elefante branco.
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A obra, iniciada na gestão do ex-governador Pedro Pedrossian e rebatizada ao longo das décadas — de terminal rodoviário a centro cultural, e agora laboratório de inovação —, teve nova licitação em 2024. Segundo a prefeita, será executada por etapas, com o uso inicial voltado a atividades culturais. Nada mal, vindo de uma gestão que ainda não entregou nenhum teatro público funcional sob sua administração.
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O que chama atenção é o enredo ousado: enquanto promete ressuscitar um monumento à inércia administrativa, Adriane ainda não conseguiu finalizar as obras que ela mesma iniciou. Como revelou uma reportagem do TeatrineTV, espaços como o Teatro Municipal José Octávio Guizzo, o Mercado do Produtor (na Praça dos Imigrantes) e diversos centros culturais regionais seguem em estado de abandono — lançados com pompa e deixados à deriva. Os editais da cultura também acumulam calotes, com pagamentos atrasados a artistas e produtores locais. [Veja o levantamento completo aqui.]
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No discurso, a prefeita também exibiu outros elementos do figurino tecnológico: prometeu ampliar o uso de telemedicina em 12 unidades de saúde, anunciou a compra de 2,4 mil computadores e falou em levar Wi-Fi para pontos de ônibus e praças. Mas, na vida real, a população ainda enfrenta longas filas na Central do Cidadão para resolver questões básicas, como multas — serviços que, ao contrário da propaganda, seguem longe de qualquer digitalização.
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A Agetec, futura inquilina do prédio tecnológico, diz ter 26 projetos em andamento e garante tocar 70% deles internamente. Nenhum, contudo, resolve o dilema principal da cidade: transformar promessas em entregas concretas.
Por enquanto, a nova temporada da gestão Adriane segue com o mesmo roteiro: lançar obras, mudar os nomes, prometer inaugurações e abandonar palcos antes mesmo da estreia. Transformar um esqueleto urbano em manchete é fácil. Difícil é entregar um final feliz.
FICÇÃO
O Centro de Belas Artes, se um dia concluído, teria 11 mil e 500 metros quadrados de área no local projetados pelo arquiteo Rubens Gil de Camillo.
No prédio cultural haveria espaço para as artes plásticas, dança, música, uma escola de teatro, salas para oficinas, restaurante, área para convivência, exposições de artes plásticas, pinacoteca municipal, e alojamento para 100 pessoas pernoitar com entrada independente.
Conforme o documento do projeto original, o local abrigaria também os ensaios da Banda Municipal Ulisses Conceição, da Orquestra Sinfônica Municipal e de grupos de teatro e de dança. A entrada principal seria pela Avenida Ernesto Geisel.
Além disso, o espaço teria um teatro multifuncional para 400 lugares, com pé direito alto e fosso para músicos, o que possibilitaria, por exemplo, apresentação de dança com orquestra.
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