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CRUELDADE

Mulher trans, cantora Santrosa é achada morta em Sinop

Ela poderia se tornar a primeira vereadora trans do município

Por TERO QUEIROZ • 11/11/2024 • 09:32
Imagem principal Como candidata, Santrosa defendia pautas voltadas ao fomento e acesso a cultura. Foto: Instagram

O corpo da cantora Santrosa, de 27 anos, foi encontrado no domingo (10.nov.24), com mãos, pés amarrados e decapitado. A vítima estava numa mata em Sinop (MT). 

Ela estava desaparecida desde o sábado (9.nov.24). Relatos feitos à polícia dão conta de que Santrosa saiu por volta das 11h de casa e não voltou mais. Ela faria um show na noite daquele dia, mas não compareceu ao evento.

O perito Deusimar Rosa explicou que há possibilidade de Santrosa ter sido executada em outro local e, posteriormente, deixada na região de mata. "Tinha alguns ferimentos pelo corpo, pés amarrados e a lesão principal é o seccionamento da cabeça do tronco, conhecido com decapitação".

Ele também estimou o tempo que o corpo tenha sido deixado no local. “As circunstâncias são bem difíceis, mas tudo indica que tem mais de oito horas nesse local, porém ainda vamos analisar”, acrescentou, afirmando que não foi possível analisar se havia perfuração por arma de fogo.  

CARREIRA

Segundo apurado, além de artista, Santrosa havia sido candidata a vereadora nas eleições municipais de 2024 pelo PSDB. Não se elegeu, mas se tornou suplente.

Na política, tinha como bandeiras a defesa de pautas voltadas à cultura para comunidades periféricas do município. Conforme publicou em seu Instagram, se viesse a ocupar uma cadeira no legislativo de Sinop, seria a primeira mulher trans a atingir o feito.

Santrosa também era CEO da Audácia Records, uma produtora especializada na cobertura de eventos e desfiles de modelos nacionais e internacionais.  

Em nota publicada no Instagram, a Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso disse que acionou o Grupo Estadual de Combates aos Crimes de Homofobia do estado e que cobrará das autoridades a apuração do crime para que os culpados sejam identificado.

Nas redes sociais, amigos e admiradores lamentaram o crime cruel. "Uma perda irreparável" e "Tão talentosa, tão cheia de vida e muita alegria. Descanse em paz minha querida", foram alguns dos comentários deixados por internautas.

VELÓRIO 

O corpo de Santrosa está sendo velado desde a madrugada na capela mortuária, em anexo ao cemitério municipal de Sinop. Seu sepultamento está previsto para as 16h30.

VIDAS LGBTS

Dossiê de LGBTIfobia Letal 2023 revelou 230 mortes violentas de LGBTI+ no Brasil, sendo 184 homicídios, 18 suicídios e 28 outras causas. A íntegra.  

A pesquisa foi realizada pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, composto por Acontece LGBTI+, ANTRA e ABGLT, utilizando dados de jornais e redes sociais, devido à falta de informações oficiais.

Em 2023, o Brasil registrou uma morte LGBT a cada 38 horas, com subnotificação provável devido à ausência de dados governamentais.

As violências mais comuns foram assassinatos, esfaqueamentos e apedrejamentos. Mulheres trans e travestis foram as principais vítimas, com 142 mortes, seguidas de 59 gays e 80 vítimas negras e pardas.

As faixas etárias mais afetadas foram de 20 a 39 anos, e 70% das mortes foram por arma de fogo. O Nordeste e Sudeste concentraram a maioria dos casos.

Além disso, 30 suicídios foram registrados, evidenciando os efeitos da LGBTIfobia na saúde mental.

O Brasil lidera o número de mortes LGBTI+ no mundo, com 5.865 mortes entre 2000 e 2023. São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro foram os estados com mais mortes, com Mato Grosso do Sul liderando por milhão de habitantes.

Em 2024, já foram registradas 61 mortes.

Para as organizações que defendem as causas LGBT, "a violência tem raízes históricas e é exacerbada pela omissão do Estado e pela atuação de grupos LGBTIfóbicos. A falta de dados oficiais é um desafio para a pesquisa, já que o IBGE e o Ministério da Saúde não coletam informações sobre LGBTI+". 

CANDIDATURAS TRANS NO BRASIL 

Conforme a  Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), em 2024, 28 candidaturas trans foram eleitas em 2024, todas para o cargo de vereadora.

Apesar do destaque de Duda Salabert na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, o legislativo ainda é um campo de resistência para a população trans.

De acordo com a ANTRA, em 2020, pelo menos 30 pessoas trans foram eleitas, número que não foi confirmado oficialmente pelo TSE.

Neste ano, de mais de 600 candidaturas, 28 pessoas trans foram eleitas ou reeleitas, com possibilidade de mais vitórias.

A maioria das candidaturas trans eleitas se deu em cidades do interior, com forte representação de partidos progressistas.

Entre os eleitos, há predominância de mulheres trans, travestis e candidaturas negras.

"Parabenizamos todas as pessoas trans, travestis, não binárias e dissidências de gênero que se candidataram. A presença de pessoas trans no legislativo é fundamental para a defesa de direitos e construção de uma sociedade mais justa. A vitória dessas candidaturas honra o legado de Katia Tapety e fortalece a luta por igualdade. Destacamos a ausência de dados sobre pessoas não binárias e intersexo no site do TSE. Muitas pessoas se declararam trans de forma equivocada, o que exigiu um trabalho mais detalhado com o VOTELGBT", disse a ANTRA em nota no seu site oficial.  

A lista das pessoas trans e travestis eleitas em 2024:

  1. Amanda Paschoal – São Paulo/SP
  2. Thabatta Pimenta – Natal/RN
  3. Regininha – Rio Grande/RS (reeleita)
  4. Isabelly Carvalho – Limeira/SP (reeleita)
  5. Benny Briolly – Niterói/RJ (reeleita)
  6. Thammy Miranda – São Paulo/SP (reeleito)
  7. Edy Oliveira – Paramoti/CE
  8. Natasha Ferreira – Porto Alegre/RS
  9. Kará Marcia – Natividade/RJ (reeleita)
  10. Atena Beauvoir – Porto Alegre/RS
  11. Filipa Brunelli – Araraquara/SP (reeleita)
  12. Juhlia Santos – Belo Horizonte/MG
  13. Carla Basil – Jundiaí/SP
  14. Tieta Melo – São Joaquim da Barra/SP (reeleita)
  15. Dandara Ferreira – Patrocínio Paulista/SP
  16. Yasmin Prestes – Entre-Ijuís/RS
  17. Myrella Soares – Bariri/SP (reeleita)
  18. Fernanda Carrara – Piraju/SP (reeleita)
  19. Flávia Carreiro – Itaguajé/PR
  20. Monica de Assis – Turiaçu/MA
  21. Dricka Lima – Campo Novo do Parecis/MT
  22. Giovami Maciel – Moema/MG
  23. Pamella Araujo – Sobral/CE
  24. Sabrina Sassa – São Sebastião da Grama/SP
  25. Marcela Lins – Santo Antônio do Amparo/MG
  26. Co-Vereadora Bruna do Há Braços de Luta – Piranguinho/MG
  27. Francini Corsi – Ipuína/MG
  28. Waleska Teixeira – Dores de Campos/MG

Apoie Artistas e Figuras públicas da Comunidade LGBTI+

Se você precisa de referências, aqui estão alguns artistas pra você começar suas descobertas.

Majur Harachell Traytowu | Liniker | As Baías | Linn da Quebrada | Mahmundi | Ludmilla | MCTha | Jaloo | Jhonny Hooker | LadyAfroo | Afroqueer | ColetivA De Trans pra Frente | Erika Hilton | Duda Salabert | Bruna Benevides

 


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Tags: Audácia Records, Dossiê de LGBTIfobia Leta, mortes violentas de LGBTI+, Santrosa, Sinop

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