Monteiro Zátula, poeta angolano, segura seus livros. Ao lado direito: a fronteira México-EUA. Foto: Reproduções
O poeta angolano Monteiro Feliciano Zátula, conhecido como Monteiro Zátula ou “Zátula Teke - O Poeta”, que estava desaparecido desde o início deste ano, foi localizado.
A informação foi repassada à reportagem do TeatrineTV, pelo jornalista e também poeta, Rafael Belo, na 6ª feira (5.dez.25).
Vamos lembrar que há 6 meses, denunciamos aqui o desaparecimento do poeta Zátula, conhecido na cena artística de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde morava desde 2015, antes de desaparecer.
Conforme áudio enviado pelo próprio Zátula, ele fez uma viagem e tentou entrar nos Estados Unidos pelo México, mas acabou sendo sequestrado pela Máfia Mexicana, também conhecida como La eMe.
"Fui sequestrado, e aí perdi o telefone. Quando estava nos Estados Unidos, não consegui acessar os números de telefone. Você sabe como é lá nos Estados Unidos. Quando finalmente consegui ter um telefone, não tinha mais tempo e não consegui acessar as redes sociais. Depois disso, a Imigração me pegou, e estamos voltando para Angola novamente", disse Zátula.
De acordo com Zátula, ele tentou voltar para o Brasil, onde tem residência. Um juiz de imigração americano chegou a determinar que ele voltasse ao Brasil, situação que foi aceita pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS). No entanto, quando ele pegou a passagem, percebeu que estava, na verdade, sendo mandado para Angola.
"Foi na 3ª feira à noite, quando olhei para a passagem, aí um agente do ICE [Immigration and Customs Enforcement] me falou que eu tinha 3 escalas. Eu falei: como assim? Aí ele falou, tem uma escala nos Estados Unidos e, fora dos Estados Unidos, tem duas escalas. Você vai sair de Houston até Nova York, vai sair de Nova York até Adis Abeba, na Etiópia, e depois vai para Angola", contou.
Questionado sobre como conseguiu se livrar da La eMe, Zátula contou que pagou cerca de 3 mil dólares para que os criminosos o liberassem.
"Pagando dinheiro. Paguei, primeiro, 1.900 dólares, depois 1.100", contou, aliviado.
Ele celebrou a chegada ao seu continente, pois, quando comunicou seu paradeiro, ainda estava em Adis Abeba, aguardando o amanhecer para embarcar em seu voo até a cidade natal.
"Já estou na África, meu continente berço, graças a Deus que deu tudo certo. Estou aqui em Adis Abeba, esperando amanhecer para pegar o voo até Angola e descansar. Depois, vou recuperar as energias para a volta ao Brasil", completou Zátula.
CARREIRA LITERÁRIA

Monteito Teke é autor dos livros Vislumbre da Alma, Retrato dos Rastros e Paixão Inglória, que reúnem poesias marcadas por linguagem metafórica e reflexões sociais.
Além da produção literária, ele também tinha formação na área de Bioquímica e integrava a Academia Mundial de Letras da Humanidade – seccional MS, onde exercia o cargo de segundo-secretário.
Em 2013, deixou Angola para estudar Química no Brasil. Mais tarde, migrou para a Bioquímica, área que, segundo ele, tinha mais estrutura e oportunidades por aqui.
Apesar de ter visitado o país antes, foi em sua mudança definitiva que decidiu conciliar sua carreira científica com a arte, reencontrando na escrita um espaço de expressão pessoal e social. “Eu sempre escrevi, comecei com 12 anos, mas já fazia poesia com 9. Quis deixar isso só para mim, mas conheci escritores daqui e eles começaram a me dar mais força”, relatou em entrevista a veículos locais.
Rubenio Marcelo e Ádemir Barbosa dos Santos, ambos poetas e professores, foram nomes que o incentivaram a retomar a escrita e a declamação em solo sul-mato-grossense.
Em 2022, foi selecionado para compor a antologia Luiz de Camões & Convidados – Volume V, da editora Mágico de Oz.
Zátula também participou de eventos culturais como o Sarau do Parque, na Comunidade Tia Eva, levando sua poesia e seu olhar social ao público local.
Em entrevistas, Zátula afirmou que via o Brasil como uma extensão cultural de Angola: “O Brasil tem essa particularidade. Quando a gente vem para cá, tem muita coisa que nos lembra a Angola. Desde a música até a alimentação".
Sobre sua escolha por Campo Grande, destacou o contraste com Luanda: “Mesmo com o Nordeste do Brasil tendo mais semelhança, vejo um pouco da Angola em todo canto. Campo Grande me trouxe a calmaria que eu precisava".
LOCAIS QUE ELE TRABALHAVA
A reportagem descobriu que Monteiro Zátula trabalhava na CER-APAE de Campo Grande. Procurada na época, por telefone, uma atendente da APAE chamada Benise, ficou surpresa ao saber que Monteiro não tem paradeiro conhecido.
A colaboradora explicou que o repórter do TeatrineTV deveria ligar mais tarde, para tentar falar com o setor de Recursos Humanos. Então, por volta das 13h15, o site retornou o contato com a APAE, que, entretanto, direcionou para a 'Comunicação' da instituição, que não forneceu nenhuma informação: nem se Monteiro Zátula foi desligado, se deixou de ir ao trabalho subitamente ou se pediu desligamento.
Zátula também era colaborador do Coletivo de Cultura do Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública (ACP).







